“Dificilmente haverá personalidade mais rica e mais completa do que a do Presidente Castello Branco, que aliava a energia do chefe à visão do estadista. Era dos que conservavam autoridade inata, embora havendo bebido o leite da ternura humana” (Luís Viana Filho, historiador e político brasileiro).
Carlos Evando dos Santos
15 Abr 2014
O Marechal Humberto de Alencar Castello Branco
nasceu em Mecejana, Ceará, no dia 20 de setembro de 1897. Era filho do General
Cândido Borges Castelo Branco e de Antonieta Alencar Castello Branco. Por parte
de sua mãe, era descendente do renomado romancista cearense José de Alencar.
Aos 8 anos de idade, Castello Branco foi estudar no Recife. A partir dos 14,
estudou no Colégio Militar de Porto Alegre. Foi casado com Argentina Viana
Castelo Branco (falecida em 1963), com quem teve dois filhos: Antonieta
Castello Branco Diniz e Paulo Viana Castello Branco. Faleceu no dia 18 de
julho de 1967, nas proximidades de Fortaleza, num trágico acidente aéreo,
quando um caça T-33 da Força Aérea Brasileira (FAB) atingiu a
cauda do avião Piper Aztec PA-23, fazendo com que a aeronave
na qual viajava caísse e restasse apenas um sobrevivente.
Castello Branco como Oficial do Exército
Brasileiro
Castello
iniciou sua carreira militar na Escola Militar do Rio Pardo, no Rio Grande do
Sul. Em 1918, alistou-se na Escola Militar do Realengo, precursora
da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), onde se destacou como um dos
mais brilhantes membros da Sociedade Acadêmica. Em 1921, foi
declarado Aspirante-a-Oficial da Arma de Infantaria, tendo sido classificado no 12º
Regimento de Infantaria (12º RI) em Belo Horizonte, onde iniciou sua
trajetória como Oficial do Exército.
Em 1924,
concluiu o Curso da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Armada. Naquele
mesmo ano, foi preso por dois meses por suspeita de participação no Movimento
Tenentista. Em 1925, como Tenente, combateu a Coluna Prestes e
comandou um destacamento que venceu os revoltosos paulistas. Em 1927,
foi nomeado instrutor da Escola Militar do Realengo. Em 1929,
cursou a Escola de Aviação Militar do Exército, que havia sido criada logo após
a Primeira Guerra Mundial. Em 1930, como outros tenentes de sua
época, participou ativamente da Revolução que impediu a posse de
Washington Luís e conduziu Getúlio Dornelles Vargas ao poder.
Em 1931,
como Capitão, concluiu o Curso da Escola de Estado-Maior do Exército, tendo
obtido a primeira colocação de sua turma. Em 1932, foi Adjunto da
Missão Militar Francesa, contratada após a Primeira Guerra Mundial para
reorganizar e modernizar o Exército Brasileiro. De 1936 a 1938,
cursou a Escola Superior de Guerra Francesa.
Em 1938,
foi promovido ao posto de Major.
Em 1943,
como Tenente-Coronel, concluiu o Curso da Escola de Comando e Estado-Maior dos
Estados Unidos da América (EUA), em Fort Leavenworth, no Kansas, no
primeiro grupo de oficiais brasileiros designados para isso. Nos anos de 1944 e 1945,
desempenhou a função de Oficial de Operações da Força Expedicionária Brasileira
(FEB), que combateu no Teatro de Operações da Itália durante a Segunda Guerra
Mundial. Nessa função, Castello Branco planejou e conduziu diversas campanhas
militares, entre as quais se destaca a Conquista de Monte Castelo, em 21 de
fevereiro de 1945.
Ao
regressar da FEB, foi promovido ao posto de Coronel. De 1945 a 1949,
foi Diretor de Ensino da Escola de Estado-Maior, transmitindo suas valiosas
experiências profissionais aos Oficiais do Exército e transformando aquela
escola num verdadeiro centro de pesquisas doutrinárias. De 1952 a 1954,
comandou a 10ª Região Militar em Fortaleza. De 1954 a 1956,
ocupou o cargo de Comandante da Escola de Estado-Maior do Exército, que passou
a se chamar Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) em 1955.
Nesse mesmo ano, apoiou o Movimento Militar, chefiado pelo General Henrique
Teixeira Lott, Ministro da Guerra, que garantiu a posse do presidente
eleito Juscelino Kubitschek (JK). De 1956 a 1958,
foi Diretor do Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra (ESG).
Em 1958,
ascendeu ao Generalato. De 1958 a 1960, atuou como
Comandante Militar da Amazônia e da 8ª Região Militar, com sede em Belém.
De 1960 a 1962, foi Diretor de Ensino e Formação
do Exército.
Em 1962,
foi promovido ao posto de General de Exército. De 1962 a 1963,
foi Comandante do IV Exército, atual Comando Militar do Nordeste (CMNE), com
sede no Recife. De 1963 a 1964, desempenhou a
elevada função de Chefe do Estado-Maior do Exército (EME), Órgão de Direção
Geral (ODG) da Força Terrestre.
Em 15
de abril de 1964, ao assumir o cargo de Presidente da República, passou
automaticamente para a Reserva Remunerada do Exército, tendo sido promovido ao
posto de Marechal, por haver participado dos combates na Segunda Guerra
Mundial.
O pensamento militar de Castello Branco
Humberto de Alencar Castello Branco dedicou-se integralmente
à vida militar, desempenhando suas funções com força de caráter, liderança
incontestável e destacado talento intelectual. Seu nome está diretamente ligado
à Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME), por conta de sua
extraordinária contribuição à reformulação da doutrina militar, principalmente
quando desempenhou as funções de Diretor de Ensino (1946-1949) e de Comandante
(1954-1955). Castello sistematizou, nos anos de 1946 e 1947, o método do
raciocínio do Estudo dos Fatores da Decisão, preconizados pela Missão Militar
Francesa, disciplinando as atividades do Comandante e dos Oficiais de
Estado-Maior. No cargo de Comandante da ECEME, aperfeiçoou o seu "Trabalho
de Comando" de 1948, procurando moldá-lo melhor às características dos
oficiais brasileiros.
Nas citações a seguir, é possível identificar a força de seu
pensamento militar.
"O
valor dos estudos na Escola de Estado-Maior do Exército não está no muito que o
oficial faz como aluno, mas, sim, no muito que vai realizar depois. O seu
diploma só tem valia se valimento houver no desempenho que deve o oficial dar
às funções que este documento lhe confere" (Sobre o Oficial de
Estado-Maior).
"A
ação, para o Comando, consiste em distinguir entre o oportuno e o inoportuno,
entre o que é imediato e o mediato. É não adiar, é fazer, impulsionar, ordenar.
É não ficar preso à discussão de ideias, em que não se atinge nunca o fim, ora
vagando pelo pessimismo, ora pelo otimismo" (Sobre o Trabalho de Comando).
"A
paz depende da organização dos Estados. Mas, todo país, além de pugnar pela
paz, tem que enquadrar na Segurança Nacional a possibilidade de uma guerra.
Tanto mais que qualquer conflito, em qualquer continente, é, hoje, um problema
de Segurança Nacional para um país que nele não esteja envolvido" (Sobre a
Guerra Moderna).
"A
vida militar, para ser bem vivida, deve ter duas características: ação, que lhe
dá ânimo e eficiência; e convivência, que lhe traz amizade, afeição, incentivo
e outras coisas boas do espírito. Desta ação e convivência, surge o espírito de
arma, de corpo e a coesão" (Sobre a Vida Militar).
"A
ausência de ideias pode não ser a falência do Chefe, mas pode levar ao desastre
os seus comandados" (Sobre o Chefe Militar).
"A
instrução dá ao homem o seu valor técnico e tático. É a base da disciplina e do
moral. A disciplina é a mola que articula o homem e os homens nas fileiras e na
guerra. É a adaptação da vontade individual ao interesse coletivo. Exige
confiança e respeito mútuos. O moral é a força que mantém a dignidade humana no
soldado. Vem de dentro dele mesmo, influenciado até por suas qualidades
físicas. Apoia-se também no moral de seus camaradas. Com ele o combatente
enfrenta o perigo e a adversidade" (Sobre a Instrução Militar).
"O
Estado-Maior do Exército é, assim, necessariamente, o fiador da estrutura e da
doutrina das Forças Terrestres. Pensante e atuante, tem que dar substância à
instituição e saber que uma e outra evoluem, particularmente, no que se refere
à eventualidade dos tipos e formas dos conflitos admitidos, ao progresso da
técnica e às mutações das próprias instituições políticas nacionais. É, então,
imperativo que ele viva, com pensamento e atuação, a sua época, identificado
com o espírito do tempo, e não só absorvido pelo dia a dia, mas de modo a não
estudar na fantasia de qualquer guerra, não se atrasar quanto ao aparelhamento
bélico e não se desligar da evolução política nacional" (Sobre o
Estado-Maior do Exército).
Castelo
Branco escreveu inúmeras obras, entre as quais se destacam: Alto Comando da
Tríplice Aliança na Guerra do Paraguai; Tendências do Emprego das Forças
Terrestres na Guerra Futura; Doutrina Militar Brasileira; A Guerra; A
Estratégia Militar e o Poder Nacional.
O Estadista: Castello Branco como Presidente da
República
Castello Branco exerceu a Suprema Magistratura do Brasil de
15 de abril de 1964 a 15 de março de 1967 (2 anos e 11 meses). Sucedeu a João
Goulart (1961-1964) e foi sucedido pelo Marechal Arthur da Costa e Silva
(1967-1969).
Ao assumir a Presidência da República, Castello Branco tinha
plena convicção que a intervenção militar seria por um breve período de tempo,
apenas o necessário para a estabilização econômica, a reorganização social e o
restabelecimento da ordem, findo o qual as lideranças civis retornariam ao
comando do poder político do País.
O Marechal-Presidente, no exercício de sua elevada função
pública, dedicou-se a resolver sérios impasses que a Nação enfrentava naqueles
tempos: grave situação econômica, problema agrário, questão habitacional,
infraestrutura deficiente, política externa equivocada, reforma e integração
das Forças Armadas, entre outras questões.
No plano político, Castello Branco primou pelo princípio de
autoridade, pela reforma do Estado brasileiro e pelo alinhamento da Política
Externa com os EUA. O AI-1 (9 Abr 1964) suspendeu imunidades parlamentares
e a garantia de vitaliciedade dos magistrados e concedeu poderes ao Presidente
para alterar a Constituição de 1946, cassar mandatos, suspender direitos
políticos e demitir funcionários. O AI-2 (17 Out 1965) estabeleceu como
indiretas as eleições para presidente e vice-presidente da república, cassou
mandatos, suspendeu direitos políticos por dez anos e instituiu o
bipartidarismo político (Arena e MDB). O AI-3 tornou indiretas as eleições para
governadores e vice-governadores dos estados, determinou que os prefeitos das
capitais fossem indicados pelos governadores e fixou a data de 3 de outubro de
1966 para a realização da eleição presidencial. O AI-4 (7 Dez 1966) convocou o
Congresso Nacional para elaborar a Constituição de 1967. Em termo de
legislação, foram aprovados o Estatuto da Terra, o Código Florestal, a Lei de
Greve, a Lei de Imprensa e o Decreto-Lei nº 200, versando sobre a Administração
Federal, vigente até os dias atuais.
No tocante às instituições, foram criados o Banco Central, o
Conselho Monetário Nacional, a Casa da Moeda, o Banco Nacional de Habitação
(BNH), a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM), o Instituto
Nacional da Reforma Agrária (INCRA), a Empresa Brasileira de Telecomunicações
(EMBRATEL), a Empresa Brasileira de Turismo (EMBRATUR), o Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço (FGTS), o Instituto Nacional da Previdência Social (INPS) e o
Serviço Nacional de Informações (SNI).
A condução da economia brasileira ficou a cargo dos
ministros Otávio Gouveia de Bulhões e Roberto Campos. No
período, foi posto em execução o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG),
que continha medidas saneadoras da economia nacional, com o fim de conter
a inflação, retomar o crescimento, normalizar o crédito, reduzir o déficit do
setor público, contrair o crédito privado, comprimir salários, controlar os
gastos dos estados (por meio da proibição de endividamento sem autorização
federal), melhorar a situação financeira das empresas estatais, cortar
subsídios aos produtos básicos e aumentar a arrecadação tributária. Foi
instituída a correção monetária para pagamento de impostos e a moeda nacional
passou a ser o Cruzeiro Novo.
Ao passar a faixa presidencial em 15 de março de 1967,
Castello Branco entregou ao seu sucessor, Marechal Arthur da Costa e Silva, um
País reorganizado política e socialmente e com maior prestígio internacional. A
economia estava saneada e a inflação controlada. As medidas de austeridade
adotadas por Castello Branco constituíram-se em condicionantes básicas para o
grande avanço que foi proporcionado pelo Milagre Econômico de Emílio Garrastazu
Médici (1969-1974).
Castello Branco externou, em diversas oportunidades, sua
visão serena de Estadista preocupado com a segurança, com o desenvolvimento e
com o futuro do País. Nas citações a seguir, é possível observar a defesa da
Revolução de 1964 como necessária para salvaguardar a vocação democrática do
Brasil.
"A
Revolução pode orgulhar-se da obra que realizou para reerguer o país. Como é da
condição humana nossas realizações são menores que os nossos desejos, mas o
nosso esforço não ficou abaixo do nosso dever" (1964).
"Venham
a mim os brasileiros e eu irei com eles para, com o auxílio de Deus e com a
serena confiança, buscar os melhores dias nos horizontes do futuro"
(1964).
"Por
nossas mãos e por aquelas que nos tocam do futuro, haveremos de construir uma democracia
de oportunidades, continuamente expressa num desenvolvimento com estabilidade.
Uma democracia verdadeira a serviço de um Brasil autêntico, fiel a suas origens
e a seu destino, seguro de suas tradições e de seus compromissos" (1965).
"Democracia
supõe liberdade, mas não exclui responsabilidade nem importa em licença para
contrariar a própria vocação política da Nação" (1965).
"O
povo compreenderá, entretanto, que não se constrói um grande país esquecendo os
objetivos permanentes da Nação e cuidando apenas dos objetivos ocasionais dos
demagogos. Não tive o aplauso destes, porque não procurei satisfazê-los. Dou-me
por feliz, entretanto, de Ter preferido a consciência dos que não aplaudem por
interesse ao interesse dos que aplaudem sem consciência" (1966).
"A
Revolução de Março de 1964 não foi feita para estimular a luta de classes nem
muito menos para preservar privilégios de classes. Seus objetivos essenciais
foram a modernização de nossa sociedade pela reforma de estruturas injustas ou
arcaicas, pelo combate simultâneo à inflação, que nos rouba o presente, e à
estagnação, que nos rouba o futuro, pela restauração da tranquilidade política
e social indispensável à realização do desenvolvimento e ao fortalecimento do
Poder Nacional" (1966).
"A
tarefa de governar, numa fase de reconstrução econômica e moral, consiste
muitas vezes em destruir tabus e banir mitos a que a irresponsabilidade dos
demagogos emprestou vigência e popularidade" (1966).
Referências:
<http://www4.planalto.gov.br/informacoespresidenciais/humberto-de-alencar-castello-branco> Acesso em 10 Abr 2014.
<http://www.eceme.ensino.eb.br/eceme/> Acesso em 10 Abr 2014.
<http://educacao.uol.com.br/biografias/humberto-de-alencar-castello-branco.jhtm> Acesso em 10 Abr 2014.
<http://www.e-biografias.net/castelo_branco/> Acesso em 10 Abr 2014
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Humberto_de_Alencar_Castelo_Branco> Acesso em 10 Abr 2014.
<http://www.eceme.ensino.eb.br/eceme/> Acesso em 10 Abr 2014.
<http://educacao.uol.com.br/biografias/humberto-de-alencar-castello-branco.jhtm> Acesso em 10 Abr 2014.
<http://www.e-biografias.net/castelo_branco/> Acesso em 10 Abr 2014
<http://pt.wikipedia.org/wiki/Humberto_de_Alencar_Castelo_Branco> Acesso em 10 Abr 2014.
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