Raul da Cruz Lima Junior
Sinopse elaborada por Carlos
Evando dos Santos
15 Jul 2013
O
livro Quebra-Canela discorre sobre os trabalhos desenvolvidos
pela 2ª Companhia de Engenharia de Combate (2ª Cia E Cmb), orgânica do 9º
Batalhão de Engenharia de Combate (9º BE Cmb), integrante da Força
Expedicionária Brasileira (FEB), que atuou no Teatro de Operações (TO) da
Itália durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O
autor, o General Raul da Cruz Lima
Junior, que, como capitão, comandou a 2ª Cia do 9º BE Cmb durante toda a
campanha, registra, com simplicidade e calor humano, os principais episódios da
guerra vividos por ele e seus subordinados no cumprimento das árduas e nobres missões
da Arma de Engenharia nos campos de batalha da Europa.
O
título da obra – Quebra-Canela – faz referência a um episódio marcante ocorrido
durante a Segunda Guerra Mundial. Na
tarde do dia 14 de abril de 1945, o Pelotão do Tenente de Infantaria Iporan
penetrou com tanto ímpeto na cidadela de Montese, que surpreendeu o inimigo nos
postos de observação. Em apoio ao Pelotão do Tenente Iporan, estava o 6º
Pelotão de Engenharia, comandado pelo Tenente de Engenharia Vinhaes, que
acompanhou a Arma-Base desde a Linha de Partida (LP), removendo obstáculos e
abrindo brechas nos campos de minas.
Na
manhã do dia 15 de abril de 1945, o Tenente Vinhaes recebeu um pedido urgente
de socorro vindo de um grupo que havia caído em área minada. Os bravos
engenheiros levaram algum tempo para abrir uma brecha através das minas até
alcançar os feridos.
Ao
chegar ao local, o Pelotão de Engenharia deparou-se com um quadro assustador:
rostos deformados e sujos de lama; no lugar dos pés dos combatentes restava,
apenas, uma mancha de sangue. Era o trágico resultado da ação mutiladora de um
inimigo invisível – a mina antipessoal, de tal forma disseminada no terreno que
dispensava a presença do inimigo em largas faixas de defesa.
A
mina schuchmine era um pequeno invólucro de madeira,
não maior que uma caixa de charutos, que, sob a pressão do pé do combatente,
detonava uma carga de explosivos suficiente para arrancar-lhe o pé e atingi-lo
até o terço inferior da perna.
A
tropa brasileira, que, para tudo, tinha um apelido, deu à schuchmine o batismo pitoresco de “quebra-canela”.
A presença dessa mina não era denunciada pelo detector eletrônico de metais,
pois o invólucro do artefato explosivo era de madeira.
A
neutralização da schuchmine era realizada unicamente pela sondagem
com o bastão, arriscada missão executada heroicamente pela Arma de Engenharia
na Campanha da Itália.
No Capítulo 1 (introdutório), o autor, em suas “primeiras palavras”, nos relata a
motivação que o levou a escrever o livro, motivação essa nascida numa tarde
melancólica, a partir do assalto de lembranças do front italiano na Segunda Guerra Mundial. As
imagens recordadas eram tão nítidas que o autor se achou capaz de rememorar os
feitos memoráveis dos cento e oitenta homens simples, despretensiosos e
anônimos que constituíram a 2ª Cia do 9º BE.
Na
sequência, no Capítulo 2, descreve a trajetória do 9º BE do Rio
de Janeiro – Aquidauana – Três Rios – Rio de Janeiro. Criado pelo Decreto-Lei nº
4.799, de 06 de outubro de 1942, o 9º BE foi organizado na capital fluminense,
a partir do Batalhão Villagran Cabrita, situado na Vila Militar. O autor, recém-promovido ao posto de capitão, foi, então, transferido do Centro de
Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro/RJ (CPOR/RJ) para a nova
Organização Militar de Engenharia, que se preparava para iniciar o deslocamento
para a sua nova sede: a pacata cidadela de Aquidauana-MS. Pela Portaria
Ministerial nº 47/1944, de 9 de agosto de 1943, o 9º BE foi designado para
compor a 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE). O Batalhão,
recém-chegado a Aquidauana, iniciou, então, sua preparação para a guerra com
dificuldades de toda ordem: tropa indisciplinada, recém-incorporada e
organizada, falta de meios etc. Algumas instruções foram improvisadas, como a
de desminagem, conduzida com latas velhas enterradas simulando campos de minas.
O 9º BE era uma tropa hipomóvel, o que ia de encontro aos padrões do Exército
dos Estados Unidos da América (EUA), que já se encontrava no front, ao lado de quem os
brasileiros iriam combater. Chegada a ordem para partir, o 9º BE iniciou longo
e penoso deslocamento às suas origens: a Vila Militar no Rio de Janeiro, onde
ocorreriam os preparativos finais do embarque para a Europa. Em 20 de setembro
de 1944, a 2ª Cia partiu juntamente com o 2º Escalão da FEB no navio transporte
de tropas General Mann rumo ao continente europeu.
No
prosseguimento, é descrita “A Grande
Travessia” (Capítulo 3). O 2º
Escalão da FEB, a comando do General Cordeiro de Farias, Comandante da
Artilharia Divisionária da 1ª DIE, partiu rumo ao TO da Itália. Ao todo: cinco
mil e setenta e cinco homens, somado aí o efetivo da 2ª Cia do 9º BE. O grande
efetivo foi distribuído em grandes compartimentos do navio, cada um com cerca
de quatrocentos e cinquenta homens. A viagem foi permeada por exercícios
constantes de alarme e abandono do navio, a qualquer hora do dia ou da noite. A
vida havia se tornado enjoada e enfadonha. No dia 12 de outubro de 1944,
ocorreu o desembarque do 2º Escalão da FEB no Porto de Livorno, totalmente devastado pelos alemães. A cobra estava prestes
a fumar!
Em
seguida, o autor nos presenteia com os relatos do treinamento final, do front, das primeiras peripécias e do batismo
de sangue da 2ª Cia do 9º BE. O rigoroso treinamento militar final ocorreu nas
proximidades da cidade de Pisa, onde foram
submetidos a testes usuais e provados em ação de conjunto, até ficarem em
condições de serem designados para algum front. Foram ministradas
instruções de desminagem, cursos de pontes e treinamento táticos de emprego da
tropa. O front designado: o Vale do Rio Reno. A primeira
missão de guerra foi apoiar o deslocamento do 1º Esquadrão de Reconhecimento (1º
Esqd Rec) para a localidade de Gaggio
Montano, pois a estrada que ligava Silla
àquela cidade estava parcialmente minada. Tentada a remoção das minas ainda
durante o dia, a Seção do Tenente Edson foi rechaçada da posição a tiros de
metralhadoras inimigas, por sorte sem nenhum ferido da parte brasileira. A
retirada das minas só poderia ser feita à noite, com a segurança feita pela
própria Engenharia, com total sucesso. O Esqd Rec do Cap Pitalluga prosseguiu
no cumprimento de sua missão.
No Capítulo 5, relata o apoio de Engenharia
aos ataques sucessivos a Monte
Castelo, a grande epopeia da FEB na Campanha da Itália. A 2ª Cia do 9º BE
fez-se presente em todos os ataques realizados a essa posição chave da defesa
alemã. Desde o ataque de 24 de novembro de 1944, quando a tropa brasileira era
apenas um reforço a Task Force 45 até o ataque final de 21 de fevereiro de 1945.
Realizou diversas missões de combate, desde conservação, manutenção e
melhoramentos da rede de estradas, reconhecimentos, abertura de brechas nos
campos de minas alemães, construção de postos de observações para os
comandantes dos ataques etc.
Posteriormente,
no Capítulo 6, descreve “O inverno – Fase de Estabilização das
Operações”, na qual houve uma trégua entre os contendores, imposta pelas
condições meteorológicas. Os soldados brasileiros passaram a se encantar com o
branco da neve que a tudo encobria. As principais atividades desenvolvidas
foram de caráter defensivo, com o lançamento de campos de minas e preparação de
destruições de pontes, tudo com vistas a proteger as nossas tropas de possíveis
ataques alemães. Patrulhas de infantaria brasileiras, reforçadas por elementos
de engenharia, de quando em quando, eram lançadas com vistas a reconhecer
atividades inimigas nas proximidades. Os oficiais brasileiros, inclusive o
autor, foram contemplados, mediante rodízio, com quatro dias de descanso em
cidades importantes, como Roma e Florença. Coisas inimagináveis, até então,
para um período de guerra.
Na
sequência, “A conquista de Monte
Castelo – Preparativos para a grande Ofensiva” (Capítulo 7). Monte Castelo, agora, seria atacado pela
10ª Divisão de Montanha, americana, e pela Divisão de Infantaria Expedicionária
brasileira. À DIE caberia: conquistar Monte Castelo, limpar o Vale do Rio
Marano e conquistar Castelnuovo. O 1º Regimento de Infantaria (RI) – Regimento
Sampaio – realizando o ataque principal, conquistaria Monte Castelo. O 2º
Batalhão do 11º RI, apoiado pela 2ª Cia do 9º BE, com progressão limitada,
cobriria o flanco direito do Regimento Sampaio. As jornadas de 19 a 21 de
fevereiro de 1945 foram vitoriosas, inclusive para o 9º BE, que, pela primeira
vez, fora empenhado, em sua totalidade nos ataques ao Monte Castelo, contando
inclusive com reforços da engenharia americana para poder atender aos múltiplos
encargos de ordem tática e técnica.
Dois
episódios merecem destaques. Primeiro: “durante o ataque do Regimento Sampaio, o
Batalhão do Major Ramagem ficou detido face a um campo de minas alemão.
Deitados no terreno, o Cel Machado Lopes e o Cap Raul, encobertos por pequena
elevação, o Cmt 9º BE dá ordem ao Cmt da 2ª Cia: “Ultrapasse a Infantaria do
Btl Major Ramagem e retire as minas que o detêm!” O Cmt da 2ª Cia, nervoso,
responde: “É uma ordem suicida, mas vou cumpri-la”. Sob a proteção dos fogos do
próprio Batalhão, com algumas baixas da Companhia, as minas foram retiradas; o
ataque prosseguiu e entraram, vitoriosos, em Santa Maria Vigliana – Rocca
Pittigliana”I. Segundo: “o
Gen Mascarenhas de Moraes, acompanhando de seu PO os ataques, recebeu mensagem
telefônica relatando dificuldades causadas por minas e que a engenharia não
havia aberto ainda as brechas nos campos de minas alemães. Imediatamente, o Gen
Mascarenhas mandou chamar o Cap Raul e, sem maiores rodeios, ordenou-lhe à
queima-roupa: “Precisamos avançar e as minas ainda não foram retiradas”. O Cap
Raul começou a explicar a situação, quando o Gen atalhou, encerrando o
assunto: “Vá resolver o caso pessoalmente”. O que foi prontamente
cumprido. Com o empenho pessoal do Cap Raul, as brechas foram abertas e os
ataques prosseguiram”.
Posteriormente,
é narrado o “Fim das Operações Preliminares do IV Corpo-de-Exército – Conquista
de Castelnuovo” (Capítulo 8). A 5 de março de 1945, o 1º Batalhão do 6º RI
deveria atacar Castelnuovo, apoiado pela 2ª Cia do 9º BE. Não haveria tempo
para reconhecimentos e a região era totalmente desconhecida. O Capitão Raul, já
tendo incorporado ensinamentos colhidos dos combates anteriores, deu início a
um estudo minucioso de emprego da sua engenharia, particularmente quanto à
abertura de passagens nos campos de minas inimigos (dosagem de brechas e de
trilhas por Batalhão de Infantaria).
Em
seguida, a “Ofensiva da Primavera – Conquista de Montese” (Capítulo IX), a
última grande batalha. A 1ª DIE atacaria, na jornada de 14 de abril de 1945,
empregando em 1º escalão, o 11º RI e o 2º/1º RI, ficando o 6º RI e o Esqd Rec
em reserva. A missão da Engenharia era manter em estado de tráfego as estradas
e fazer o acompanhamento do 11º RI nas operações sobre Montello-Montese-747 e
do Esqd Rec no Aproveitamento do Êxito sobre o Rio Panaro. Coube à 2ª Cia do 9º
BE fazer o acompanhamento do 11º RI. Durante essa fase da campanha, as Seções
de Engenharia passaram a denominar-se Pelotões de Engenharia (Pel E). Cada Pel
E apoiaria o ataque de um BI (dosagem básica adotada até os dias atuais). A
epopeia da Tomada de Montese encontra-se relatada na parte inicial desta Sinopse.
No Capítulo 10, é relatada a satisfação da tropa
brasileira em presenciar a “Perseguição
e a rendição alemã na Itália”. Assim como os bravos infantes, o 9º BE
testemunhara o fim da guerra.
No Capítulo 11 – “A
ocupação militar – Concentração em Francolise – Regresso à Pátria –
Desmobilização”, o General Raul relata o recebimento, pelas tropas brasileiras,
da notícia auspiciosa: foi, assinada, em 8 de maio de 1945, em Berlim, na
Alemanha, a rendição incondicional de todas as forças alemãs. Era o fim. Mas
uma última missão restava à 2ª Cia: lançar uma Ponte Bailey sobre o Rio Tidone,
em substituição a uma ponte destruída pelos alemães em sua retirada. No dia 25 de
julho de 1945, o 9º BE embarcou a bordo do navio brasileiro Pedro II com
destino ao Brasil. Em 13 de agosto de 1945, os Heróis da Pátria reviram o
Pão-de-Açúcar.
No Capítulo 12, as “Considerações Finais”.
A
obra Quebra-Canela, do General Raul da Cruz Lima Junior, é um
livro recomendado para todos, civis e militares e, por que não, obrigatória
para todas as gerações de engenheiros.
Escrita
com a simplicidade de um soldado, com a imparcialidade de um comandante que
deseja transmitir valiosos conhecimentos de combate, e com o intuito de não
deixar perderem-se no tempo e no espaço os momentos gloriosos vividos pelos
militares do 9º BE no maior conflito de todos os tempos, deve ser encarada como
uma grande referência da nossa História Militar.
O exemplo de vida do "Capitão Raul", pessoal e profissional, constitui-se em revigorado incentivo às atuais gerações de engenheiros.
Referência:
Lima Jr, Raul da Cruz. Quebra Canela. A Engenharia Brasileira na Campanha da Itália. 2 ed. Rio de Janeiro: Bibliex, 1982.
O exemplo de vida do "Capitão Raul", pessoal e profissional, constitui-se em revigorado incentivo às atuais gerações de engenheiros.
Referência:
Lima Jr, Raul da Cruz. Quebra Canela. A Engenharia Brasileira na Campanha da Itália. 2 ed. Rio de Janeiro: Bibliex, 1982.
Muito obrigado pelo texto, esclarecedor! Aos esforços de guerra desses heróis brasileiros minha eterna gratidão, embora passados tantos anos com certeza ão de estar ao lado dos justos por tão importante missão! Obrigado.
ResponderExcluirMaravilhoso. Fui lendo e imaginando as cenas.
ResponderExcluirUma história de heroísmo e bravura que todos os brasileiros deveriam conhecer e se orgulhar!
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