segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Primeira Guerra Mundial (1914-1918)

Em 1914, o mundo viveu o fim da Belle Époque (1870-1914). Os interesses imperialistas das nações europeias entraram em choque. O nacionalismo passou a viver momentos de exacerbação. Uma corrida armamentista foi desencadeada pelos principais atores europeus, particularmente a Alemanha, que passou a rivalizar com Inglaterra e FrançaA ameaça de guerra passou a ser usada como arma diplomática. Um clima geral de instabilidade política e social foi instaurado por questões de minorias étnicas. 

O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, em 28 de junho de 1914, foi o estopim da “Grande Guerra”, como ficou conhecido aquele conflito armado até a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

Carlos Evando dos Santos
28 Jun 2014

Alianças
Para a Grande Guerra, formaram-se dois blocos: os Países Centrais [Alemanha, Império Austro-Húngaro, Itália (até 1915) e o Império Turco-Otomano] e a Entente [Grã-Bretanha, França, Rússia (até 1917), Itália (após 1915) e EUA (após 1917)]. A Primeira Guerra Mundial envolveu 27 nações, 40 milhões de soldados (Impérios Centrais) e 21 milhões de soldados (Entente).

1ª Fase: Guerra de movimento (de Jul a Dez 1914)
Em 23 de julho de 1914, o Império Austro-Húngaro lançou um ultimato à Sérvia para investigar o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando. A Sérvia recusou o ultimato, dois dias depois. No dia 29, o Império Austro-Húngaro declarou guerra à Sérvia e bombardeou Belgrado. No dia seguinte, a Rússia mobilizou-se em apoio à Sérvia. Em 1º de agosto, o Império Austro-Húngaro invadiu a Sérvia. Na primeira batalha do conflito (Batalha da Sérvia), os sérvios conseguiram oferecer resistência à invasão, o que obrigou os austríacos a manterem efetivos em território sérvio. Pelo plano alemão (Plano Schlieffen), o objetivo era invadir a França valendo-se de uma manobra de duplo envolvimento, mantendo a concentração de forças na ala direita (mais a oeste). Em 3 de agosto, a Alemanha declarou guerra à França. No dia seguinte, 4, invadiu a Bélgica. Pela importância belga, de 14 a 24 de agosto, o Império Britânico resolveu entrar no conflito, atrasando o avanço alemão, obtendo importante vitória na Batalha das Fronteiras. O ataque russo à Prússia Oriental agravou a situação alemã, que teve que enviar tropas para aquela frente. De 17 de agosto a 2 de setembro, a Alemanha obteve expressivas vitórias na Batalha de Tannenberg. Em dezembro, na Batalha do Marne, o avanço alemão sobre Paris foi barrado pela vitória da coalizão franco-inglesa. Entretanto, as forças alemãs adotaram postura defensiva, fixando as tropas francesas e inglesas. Daí em diante viria a ocorrer o que todos não queriam e que não haviam previsto: o prolongamento da guerra.

2ª Fase: Guerra de trincheiras (de 1915 a 1918)
O ano de 1915 foi marcado permanentemente pela guerra de posição. Em fevereiro de 1916, na Batalha de Verdun, o ataque alemão durou quase um ano, gerando cerca de um milhão de mortos. Seguiram-se outras batalhas: 31 de maio de 1916: Batalha de Jutlândia. De 1º de julho a 17 de novembro de 1916: Batalha de Somme. Em fevereiro de 1917, os alemães decretaram a guerra submarina irrestrita. Em 6 de abril de 1917, os EUA declararam guerra aos Impérios Centrais. No mês de junho de 1917, a Batalha de Ypres representou uma importante vitória aliada. Em outubro de 1917, os austríacos derrotaram os italianos e os fizeram recuar cerca de cem quilômetros. O Império Turco-Otomano, em novembro de 1917, entrou na guerra ao lado dos Impérios Centrais e a Rússia deixou o conflito, em virtude da Revolução Bolchevique. Em março de 1918, as tropas norte-americanas chegaram ao Teatro de Operações (TO) Europeu. Na Ofensiva de Verão, em julho de 1918, os alemães chegaram a cerca de cento e vinte quilômetros de Paris. Seguiu-se a Ofensiva Aliada dos Cem Dias. No dia 8 de agosto de 1918, a vitória aliada na Batalha de Amiens marcou o fim da Guerra de Posição. O dia 11 de novembro de 1918 entrou para a História com a assinatura do armistício.

As armas de guerra
Os combates da Primeira Guerra Mundial foram influenciados pelo avanço tecnológico proporcionado pela Revolução Industrial. Meios e técnicas inovadoras foram amplamente empregados no conflito: estradas de ferro, telégrafo, motor a explosão, motor elétrico, automóveis, aviões, carros de combate, submarinos, aços especiais para o calibre da artilharia e a blindagem dos carros de combate e dos navios de guerra, artilharia pesada, bombardeios antes dos ataques, metralhadoras automáticas com grande velocidade de tiro, gases de combate, observação aérea, aerofotogrametria, camuflagem, comunicações (uso de mensagens criptografadas), táticas de infiltração, barragem rolante (sincronização do tiro de artilharia com a progressão da infantaria), princípio da guerra total e o uso ostensivo da propaganda como arma de guerra psicológica.

Consequências da Grande Guerra:

Políticas
Assinatura do Tratado de Versalhes, em 28 de junho de 1919, o que, para muitos historiadores, deu origem à Segunda Guerra Mundial; criação da Liga das Nações, em 16 de janeiro de 1920, com sede em Genebra, na Suíça; dissolução do Império Alemão e instauração da República de Weimar; dissolução do Império Austro-Húngaro (Áustria, Hungria, Iugoslávia e Tchecoslováquia); dissolução do Império Turco-Otomano; surgimento de novos países (Polônia, Lituânia, Letônia, Estônia e Finlândia); perda de colônias por parte dos países perdedores; partilha do Oriente Médio entre França e Inglaterra; Declaração Balfour de 1917: os britânicos prometeram a criação do “Lar Nacional Judeu na Palestina”; para a Alemanha: perda de um sétimo do território e de 10% de sua população.

Econômicas
Endividamento dos países europeus; mudança do eixo econômico e financeiro mundial da Europa para os EUA e o Japão; pagamento por parte da Alemanha de indenizações de guerra fixadas em 132 bilhões de marcos-ouro.

Militares
Redução do Exército Alemão a cem mil homens e proibição de equipar-se com artilharia pesada e tanques; supressão da Marinha de Guerra e da Força Aérea Alemã; extinção do Serviço Militar Obrigatório na Alemanha; evolução da Doutrina Militar e avanços tecnológicos dos materiais de emprego militar (algo sem precedentes até então).

Psicossociais
Cerca de 20 milhões de mortos; envelhecimento da população europeia; reorganização dos direitos trabalhistas; clima de revolta e de ressentimentos; recrudescimento do mito alemão da “punhalada pelas costas”; desemprego e redução de salários na Europa; inserção da mulher no mercado de trabalho europeu pela falta de homens; e desenvolvimento da cirurgia plástica para reparar os mutilados pela guerra.

Ruptura
A Primeira Guerra Mundial redesenhou as fronteiras da Europa e extinguiu quatro impérios: o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império Otomano e o Império Russo. Com isso, as linhas que, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, marcavam a Europa já eram muito parecidas com as de hoje.
A Guerra de 1914-1918 representou uma verdadeira ruptura na história. O fim do domínio europeu sobre o mundo, a ascensão da potência norte-americana (EUA), o radicalismo islâmico que brotou dos escombros do Império Otomano, o avanço do Comunismo e os ferozes embates ideológicos a ele vinculados são consequências da Grande Guerra. Nunca antes na História da Humanidade se matou tanto em confrontos armados, em números absolutos.

O Tratado de Versalhes de 1919, que subjugou a Alemanha sob severas penas, deu origem a um forte sentimento nacionalista e de vingança que passou a marcar os alemães, resultando na eclosão da Segunda Guerra Mundial, alguns anos mais tarde.


Referências:

Araripe, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. in Magnoli, Demétrio (organizador). História das guerras. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2011.

Revista Veja. Edição Especial. 100 anos da Grande Guerra. São Paulo: Editora Abril, 2014.


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