Em 1914, o mundo viveu o fim da Belle Époque (1870-1914). Os interesses imperialistas das nações europeias entraram em choque. O nacionalismo passou a viver momentos de exacerbação. Uma corrida armamentista foi desencadeada pelos principais atores europeus, particularmente a Alemanha, que passou a rivalizar com Inglaterra e França. A ameaça de guerra passou a ser usada como arma diplomática. Um clima geral de instabilidade política e social foi instaurado por questões de minorias étnicas.
O assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do Império Austro-Húngaro, em 28 de junho de 1914, foi o estopim da “Grande Guerra”, como ficou conhecido aquele conflito armado até a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Carlos Evando dos Santos
28 Jun 2014
Alianças
Para a Grande Guerra, formaram-se dois blocos: os Países Centrais [Alemanha, Império
Austro-Húngaro, Itália (até 1915) e o Império Turco-Otomano] e a Entente [Grã-Bretanha, França, Rússia
(até 1917), Itália (após 1915) e EUA (após 1917)]. A Primeira Guerra Mundial
envolveu 27 nações, 40 milhões de soldados (Impérios Centrais) e 21 milhões de
soldados (Entente).
1ª
Fase: Guerra de movimento (de Jul a Dez 1914)
Em
23 de julho de 1914, o Império Austro-Húngaro lançou um ultimato à Sérvia para
investigar o assassinato do Arquiduque Francisco Ferdinando. A Sérvia recusou o
ultimato, dois dias depois. No dia 29, o Império Austro-Húngaro declarou guerra
à Sérvia e bombardeou Belgrado. No dia seguinte, a Rússia mobilizou-se em apoio
à Sérvia. Em 1º de agosto, o Império Austro-Húngaro invadiu a Sérvia. Na primeira
batalha do conflito (Batalha da Sérvia), os sérvios conseguiram oferecer
resistência à invasão, o que obrigou os austríacos a manterem efetivos em
território sérvio. Pelo plano alemão (Plano Schlieffen), o objetivo era invadir
a França valendo-se de uma manobra de duplo envolvimento, mantendo a
concentração de forças na ala direita (mais a oeste). Em 3 de agosto, a
Alemanha declarou guerra à França. No dia seguinte, 4, invadiu a Bélgica. Pela
importância belga, de 14 a 24 de agosto, o Império Britânico resolveu entrar no
conflito, atrasando o avanço alemão, obtendo importante vitória na Batalha das
Fronteiras. O ataque russo à Prússia Oriental agravou a situação alemã, que
teve que enviar tropas para aquela frente. De 17 de agosto a 2 de setembro, a
Alemanha obteve expressivas vitórias na Batalha de Tannenberg. Em dezembro, na
Batalha do Marne, o avanço alemão sobre Paris foi barrado pela vitória da
coalizão franco-inglesa. Entretanto, as forças alemãs adotaram postura
defensiva, fixando as tropas francesas e inglesas. Daí em diante viria a ocorrer o que todos não
queriam e que não haviam previsto: o prolongamento da guerra.
2ª
Fase: Guerra de trincheiras (de 1915 a 1918)
O
ano de 1915 foi marcado permanentemente pela guerra de posição. Em fevereiro de
1916, na Batalha de Verdun, o ataque alemão durou quase um ano, gerando cerca
de um milhão de mortos. Seguiram-se outras batalhas: 31 de maio de 1916: Batalha
de Jutlândia. De 1º de julho a 17 de novembro de 1916: Batalha de Somme. Em fevereiro
de 1917, os alemães decretaram a guerra submarina irrestrita. Em 6 de abril de 1917,
os EUA declararam guerra aos Impérios Centrais. No mês de junho de 1917, a
Batalha de Ypres representou uma importante vitória aliada. Em outubro de 1917,
os austríacos derrotaram os italianos e os fizeram recuar cerca de cem
quilômetros. O Império Turco-Otomano, em novembro de 1917, entrou na guerra ao
lado dos Impérios Centrais e a Rússia deixou o conflito, em virtude da
Revolução Bolchevique. Em março de 1918, as tropas norte-americanas chegaram ao
Teatro de Operações (TO) Europeu. Na Ofensiva de Verão, em julho de 1918, os
alemães chegaram a cerca de cento e vinte quilômetros de Paris. Seguiu-se a
Ofensiva Aliada dos Cem Dias. No dia 8 de agosto de 1918, a vitória aliada na
Batalha de Amiens marcou o fim da Guerra de Posição. O dia 11 de novembro de
1918 entrou para a História com a assinatura do armistício.
As
armas de guerra
Os
combates da Primeira Guerra Mundial foram influenciados pelo avanço tecnológico
proporcionado pela Revolução Industrial. Meios e técnicas inovadoras foram
amplamente empregados no conflito: estradas de ferro, telégrafo, motor a explosão,
motor elétrico, automóveis, aviões, carros de combate, submarinos, aços
especiais para o calibre da artilharia e a blindagem dos carros de combate e
dos navios de guerra, artilharia pesada, bombardeios antes dos ataques,
metralhadoras automáticas com grande velocidade de tiro, gases de combate,
observação aérea, aerofotogrametria, camuflagem, comunicações (uso de mensagens
criptografadas), táticas de infiltração, barragem rolante (sincronização do
tiro de artilharia com a progressão da infantaria), princípio da guerra total e
o uso ostensivo da propaganda como arma de guerra psicológica.
Consequências
da Grande Guerra:
Políticas
Assinatura
do Tratado de Versalhes, em 28 de junho de 1919, o que, para muitos
historiadores, deu origem à Segunda Guerra Mundial; criação da Liga das Nações,
em 16 de janeiro de 1920, com sede em Genebra, na Suíça; dissolução do Império
Alemão e instauração da República de Weimar; dissolução do Império
Austro-Húngaro (Áustria, Hungria, Iugoslávia e Tchecoslováquia); dissolução do
Império Turco-Otomano; surgimento de novos países (Polônia, Lituânia, Letônia,
Estônia e Finlândia); perda de colônias por parte dos países perdedores;
partilha do Oriente Médio entre França e Inglaterra; Declaração Balfour de
1917: os britânicos prometeram a criação do “Lar Nacional Judeu na Palestina”;
para a Alemanha: perda de um sétimo do território e de 10% de sua população.
Econômicas
Endividamento
dos países europeus; mudança do eixo econômico e financeiro mundial da Europa
para os EUA e o Japão; pagamento por parte da Alemanha de indenizações de
guerra fixadas em 132 bilhões de marcos-ouro.
Militares
Redução
do Exército Alemão a cem mil homens e proibição de equipar-se com artilharia
pesada e tanques; supressão da Marinha de Guerra e da Força Aérea Alemã;
extinção do Serviço Militar Obrigatório na Alemanha; evolução da Doutrina
Militar e avanços tecnológicos dos materiais de emprego militar (algo sem
precedentes até então).
Psicossociais
Cerca
de 20 milhões de mortos; envelhecimento da população europeia; reorganização
dos direitos trabalhistas; clima de revolta e de ressentimentos;
recrudescimento do mito alemão da “punhalada pelas costas”; desemprego e
redução de salários na Europa; inserção da mulher no mercado de trabalho
europeu pela falta de homens; e desenvolvimento da cirurgia plástica para
reparar os mutilados pela guerra.
Ruptura
A
Primeira Guerra Mundial redesenhou as fronteiras da Europa e extinguiu quatro impérios: o Império Alemão, o Império Austro-Húngaro, o Império Otomano e o
Império Russo. Com isso, as linhas que, às vésperas da Segunda Guerra Mundial, marcavam
a Europa já eram muito parecidas com as de hoje.
A
Guerra de 1914-1918 representou uma verdadeira ruptura na história. O fim do
domínio europeu sobre o mundo, a ascensão da potência norte-americana (EUA), o
radicalismo islâmico que brotou dos escombros do Império Otomano, o avanço do
Comunismo e os ferozes embates ideológicos a ele vinculados são consequências
da Grande Guerra. Nunca antes na História da Humanidade se matou tanto em
confrontos armados, em números absolutos.
O
Tratado de Versalhes de 1919, que subjugou a Alemanha sob severas penas, deu
origem a um forte sentimento nacionalista e de vingança que passou a marcar os
alemães, resultando na eclosão da Segunda Guerra Mundial, alguns anos mais
tarde.
Referências:
Araripe, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. in Magnoli, Demétrio (organizador). História das guerras. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
Revista Veja. Edição Especial. 100 anos da Grande Guerra. São Paulo: Editora Abril, 2014.
Referências:
Araripe, Luiz de Alencar. Primeira Guerra Mundial. in Magnoli, Demétrio (organizador). História das guerras. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
Revista Veja. Edição Especial. 100 anos da Grande Guerra. São Paulo: Editora Abril, 2014.
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