segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Descobrimento do Brasil

Intencionalidade ou causalidade?

Carlos Evando dos Santos
22 Abr 2014

As grandes navegações
Os países europeus, durante os Séculos XV e XVI, destacadamente Espanha e Portugal, lançaram-se nos Oceanos Atlântico, Pacífico e Índico com dois objetivos principais: descobrir uma nova rota marítima para as Índias e encontrar novas terras. O período ficou conhecido para a posteridade como a Era das Grandes Navegações.
Nessa época, as especiarias orientais eram monopolizadas pelos comerciantes de Veneza e de Gênova, que cobravam por elas preços exorbitantes. O único canal de comunicação e de transporte para as Índias era pelo Mar Mediterrâneo, dominado integralmente pelos mouros e pelos italianos.
Espanha e Portugal lançaram-se, então, numa grande aventura de encontrar novas rotas para as Índias, a fim de permitir o acesso direto às suas especiarias e ao lucrativo comércio delas advindo. As especiarias orientais, como canela, gengibre, cravo, pimenta e açafrão, eram produtos difíceis de obter na Europa e, na época, desempenhavam importante papel no tempero e na conservação de alimentos.
As Grandes Navegações foram impulsionadas também pela necessidade dos europeus de conquistar novas terras, a fim de obter matérias-primas, metais preciosos e produtos não encontrados na Europa. Aliado a isso, a Igreja Católica desejava encontrar novos fieis, a fim de expandir sua religião.
Em 1492, Cristóvão Colombo, sob a bandeira da Espanha, aportou na América, fato que ampliou em muito as expectativas dos exploradores europeus.
Espanha e Portugal, por terem as mesmas ambições e a fim de evitar conflitos pela posse de novos territórios, assinaram, em 1494, o Tratado de Tordesilhas, por meio do qual foi traçada uma linha imaginária no sentido norte-sul passando 370 léguas a oeste das Ilhas de Cabo Verde. As terras a leste da Linha de Tordesilhas seriam de Portugal, enquanto que as terras a oeste pertenceriam à Espanha.
O Reino de Portugal assumiu posição de destaque nas Grandes Navegações dos Séculos XV e XVI, devido a uma série de fatores, entre os quais se destacam: experiência adquirida pelos navegadores portugueses com a pesca de bacalhau; as caravelas lusitanas tinham qualidade superior às de outros países; grande quantidade de investimentos de capital patrocinados pela burguesia e pela nobreza lusitanas, muito interessadas nos lucros futuros; e a existência da Escola de Sagres, centro de estudos náuticos de referência mundial.
Em 1498, Vasco da Gama, a mando de Dom Manuel I, navegou ao redor da África e chegou à Calicute, na Índia. O grande objetivo havia sido atingido: uma rota alternativa ao Mar Mediterrâneo para chegar ao Oriente. Ao retornar à Península Ibérica, as caravelas portuguesas, carregadas de especiarias, renderam lucros fabulosos a Portugal.

A expedição de Pedro Álvares Cabral
A fim de selar o sucesso da viagem de Vasco da Gama, o monarca português Dom Manuel I se apressou em mandar aparelhar uma nova expedição para as Índias, desta feita, a maior frota até então constituída. Eram 13 embarcações, sendo 10 naus e 3 caravelas, além de 1 naveta de mantimentos, e mais de 1.500 homens.
O comando da expedição foi confiado ao Capitão-Mor Pedro Álvares Cabral, de 33 anos de idade. A bordo, estavam presentes alguns dos mais experientes navegadores portugueses, como Bartolomeu Dias, o mesmo que havia dobrado o Cabo da Boa Esperança e atingido, pela primeira vez, o Oceano Índico.
A partida foi programada para o dia 8 de março de 1500. Mas, devido ao mau tempo, só veio a acontecer no dia seguinte, 9. Rumando para o Ocidente, a frota chegou às Ilhas Canárias no dia 13, dirigindo-se para o Arquipélago de Cabo Verde, onde uma nau desapareceu no mar, não sendo mais encontrada. No dia 9 de abril de 1500, Cabral cruzou a Linha do Equador.
No entardecer do dia 22 de abril de 1500, Pedro Álvares Cabral ancorou em frente a um monte, batizado por ele de Monte Pascoal, no magnífico cenário do litoral sul do atual Estado de Bahia. Era o “Achamento do Brasil”.
Antes de continuar a viagem para as Índias, os portugueses permaneceram na nova terra até o dia 2 de maio de 1500, tomando posse dela, "em nome de Dom Manuel I e de Jesus Cristo".
A Esquadra de Cabral não encontrou a “terra brasilis” deserta. Cerca de 5 milhões de índios espalhavam-se por ela, particularmente ao longo do litoral. No dia 23 de abril de 1500, Nicolau Coelho, um navegador experiente, desceu à terra e travou o primeiro contato com os índios. "Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse as suas vergonhas. Traziam nas mãos arcos e setas". O contato foi breve e amigável, tendo ocorrido, inclusive, troca de presentes. Os índios eram os tupiniquins. Entre os dias 24 e 25, um número maior de portugueses foi à terra e os contatos com os índios tornaram-se mais frequentes. Na impossibilidade de comunicação linguística, as tentativas de entendimento basearam-se na troca de produtos entre índios e portugueses.
A chegada ao Brasil, o desembarque e a estadia dos portugueses na terra foram documentados por vários integrantes da expedição, que escreveram cartas ao rei relatando os fatos. A "Carta de Achamento do Brasil", de Pero Vaz de Caminha, escrivão da Armada, é o documento sobre o descobrimento mais rico em detalhes.
No dia 26, por ordem de Pedro Álvares Cabral, o frade franciscano, Henrique Soares de Coimbra, celebrou a Primeira Missa em solo brasileiro, assistida pela tripulação e, à distância, por cerca de 200 índios.
No dia 1º de maio de 1500, transcorreu a cerimônia de posse oficial da terra. Uma grande cruz de madeira, com as armas reais de Dom Manuel I, foi erguida na baía Cabrália e Frei Henrique de Coimbra celebrou a Segunda Missa.
No dia seguinte, 2 de maio de 1500, pela manhã, a Esquadra de Pedro Álvares Cabral partiu, deixando em terra dois degredados, que haviam sido condenados à morte mas que tiveram suas penas comutadas pelo exílio nas terras descobertas.
Cabral seguiu rumo às Índias. A nau de mantimentos, sob o comando de Gaspar de Lemos, separou-se da esquadra, com o objetivo de retornar a Lisboa e comunicar ao rei o “Achamento da Ilha de Vera Cruz”.
Em 23 de maio de 1500, a armada chegou ao Cabo da Boa Esperança, onde foi atingida por uma tempestade que fez 3 embarcações naufragarem. Numa delas, estava Bartolomeu Dias, que acabou sendo sepultado no local que o fez passar à História.
Em setembro de 1500, os portugueses atingiram Calicute. Ali, enfrentaram a hostilidade dos comerciantes muçulmanos que resultou em ataque à feitoria estabelecida pelos portugueses, em dezembro de 1500. No referido ataque, morreu o escrivão Pero Vaz de Caminha.
Apesar dos reveses, a viagem de Pedro Álvares Cabral, encerrada em julho de 1501 com a chegada do Comandante a Lisboa, foi coroada de êxito comercial e deu início ao comércio regular entre Portugal e Índia.

Polêmica
A chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil teria sido casual? Alguns argumentos podem confirmar a Teoria da Intencionalidade: 1) Dom Manuel I já havia sido informado da chegada de Cristóvão Colombo ao Caribe e da viagem de Vasco da Gama, que observara vários indícios de terra firme ao passar ao largo da costa americana a caminho das Índias; 2) as instruções confidenciais transmitidas por Dom Manuel I ao Capitão-Mor da Esquadra jamais foram reveladas; 3) a permanência da frota de Cabral na terra descoberta por mais de uma semana não pode ser justificada se o único objetivo da expedição fosse chegar rapidamente às Índias; e 4) o grande interesse português em conquistar a simpatia dos índios, tendo, inclusive, deixado dois degredados, com o objetivo de aprender a língua dos primitivos e recolher informações sobre o seu modo de vida.

Referências:


Nenhum comentário:

Postar um comentário

O Sermão da Montanha

Jesus Cristo, segundo o Evangelho de Mateus Mateus 5 1 Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproxi...