segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Duque de Caxias


O livro Caxias, de Affonso de Carvalho, editado pela Biblioteca do Exército (Bibliex), é uma das mais completas biografias do líder militar, marechal de campo, senador, comandante das tropas aliadas na Guerra da Tríplice Aliança e único duque do Império do Brasil.


Carlos Evando dos Santos
16 Jul 2013

A 1ª edição do livro Caxias é de 1938. Filho do general Antônio Affonso de Carvalho, herói da Guerra de Canudos e um dos mais brilhantes militares de seu tempo, o autor fundou e dirigiu a Revista Nação Armada, consagrada à Defesa Nacional. Foi membro da Constituinte de 1946 e Deputado Federal pelo Estado de Alagoas.
Trata-se de uma “biografia completa e sentimental que supera a conjuração do mito e da distorção” da figura ilustre do Marechal-de-Campo Luiz Alves de Lima e Silva. “Por ser extremamente exato em sua grave simplicidade”, é a obra de maior merecimento de Affonso de Carvalho. É uma das biografias mais completas do Patrono do Exército Brasileiro. Tem como tema central a vida do Duque de Caxias.
Divide-se em quatro grandes partes: Batismo de glória e de fogo; Luta contra a rebelião; Luta contra a tirania; e Velhice e morte de Caxias. A biografia contida na obra é a própria História do Brasil-Império. Relata-nos a saga do comandante invicto em conflitos internos e externos, do exemplar chefe político, do soldado modelo, tão simples quanto grandioso, de um dos maiores responsáveis pela integridade de nosso território e um dos principais sustentáculos do Reinado de D. Pedro II.
Caxias nasceu ainda no Brasil-Colônia. Mas quando assentou praça como cadete, o país começava a nascer como Império. Em 1822, na Independência, Caxias era tenente. Quando o Batalhão do Imperador foi configurado em 1823, foi nomeado seu Ajudante. Em cerimônia presidida por D. Pedro I, entrou para a História Militar como o primeiro Porta-Bandeira do Brasil.
No dia 3 de maio de 1823, Caxias teve seu batismo de fogo nas lutas travadas na Bahia no contexto da Guerra de Independência (1822-1823). Nos anos seguintes, participou da Guerra de Independência da Cisplatina (1825-1828).
No evento histórico que envolveu o 7 de abril de 1831 e abdicação de D. Pedro I, que para muitos foi a verdadeira Independência do Brasil, Caxias já era Major. Mesmo entendendo que a abdicação era a única saída para o Brasil naquele momento, demonstrou lealdade ao Imperador Pedro I. Foi duramente criticado.
Seguiu-se o Período Regencial (1831-1840). Caxias participou da pacificação de importantes revoltas internas: Balaiada (1838-1841), Revolta Liberal de São Paulo e Minas Gerais (1842) e, da mais duradoura delas, a sangrenta Revolta Farroupilha (1835-1845).
Em 1847, Caxias foi nomeado, pela primeira vez, Senador do Império.
No campo militar, seguiram-se as lutas da Guerra contra Oribe e Rosas (1851-1852), resultado da longa disputa entre Argentina, Uruguai e Brasil por influência e hegemonia na estratégica região do Rio da Prata.
Em 1855, exerceu a nobre função de Ministro da Guerra. Em sua gestão, destacaram-se os seguintes feitos: Decreto de Promoções; criação de uma "tática nacional"; regularização da instrução de equitação; criação da Repartição do Ajudante-General, embrião do atual Estado-Maior do Exército (EME); edição de um novo Código Penal Militar e do Regulamento Correcional das Transgressões Disciplinares, embrião do atual Regulamento Disciplinar do Exército (RDE).
Em 1861, foi nomeado por D. Pedro II, pela primeira vez, Presidente do Conselho de Ministros, o que representava na nossa monarquia constitucional, o cargo de Primeiro-Ministro e Chefe do Gabinete Ministerial.
Para a Guerra da Tríplice Aliança (1864-1870), no Paraguai, Caxias não foi nomeado, a princípio, Comandante das Forças Brasileiras por motivação política, o que Affonso de Carvalho definiu como uma das maiores “comédias brasileiras”. Essa decisão foi influenciada pela permanente disputa entre liberais e conservadores, os dois partidos que dominavam a cena política do Império do Brasil.
Após o desastre de Curupaiti, Caxias foi, então, nomeado Comandante das Forças Brasileiras em 1866, as quais haviam marchado na direção do inimigo apenas quatorze quilômetros em um ano de conflito.
Em 1867, ao assumir o Comando das Forças Aliadas, Caxias reorganizou as tropas e deu início a uma série de vitórias (Tuiu-Cuê, Itororó e Lomas Valentinas) que viriam a culminar com a entrada em Assunção e a derrocada total de Solano López.
O velho comandante, já cansado das frentes de combate, pois contava com mais de 65 anos, sentiu o peso da idade e das inúmeras batalhas que comandou pessoalmente. Era hora de retornar. Em mensagem ao Imperador D. Pedro II, Caxias avisou que a guerra havia terminado. O Imperador não aceitou. Queria a “cabeça” de Solano López. Caxias regressou mesmo assim. Para o seu lugar, o Império do Brasil enviou o francês Conde D’Eu, esposo da Princesa Isabel.
Um triste episódio causaria profunda tristeza em Caxias. Quando o navio São José abarcou no Porto do Rio de Janeiro, nenhum brasileiro aguardava o velho general, a não ser sua amada esposa. Ingratidão da Pátria, a quem tudo deu e nada pediu.
Em seguida, recebeu o título de Duque, único concedido pelo Império do Brasil em toda a sua existência de 67 anos. Mas também vieram acusações do Senado de que havia transportado mais do que poderia no retorno da Campanha no Paraguai. Caxias recolheu-se à Fazenda Santa Mônica, no interior fluminense.
Em 1874, Caxias sofreu um “golpe de morte”. Morreu a Duquesa. A morte de sua amada foi levando aos poucos o coração do velho marechal.
Um novo chamado da Pátria viria logo em seguida. Em 1875, Pedro II necessitava viajar ao estrangeiro. O Imperador buscava alguém de confiança para tocar o Brasil durante sua ausência. Foi o último chamado e o último sacrifício do velho Duque. Pela terceira vez, exerceria as funções de Ministro da Guerra e Presidente do Conselho de Ministros.
Nessa oportunidade, introduziu as armas de retrocarga, adquiriu material Krupp para a Artilharia, mandou construir os Fortes de Tabatinga, Corumbá e Uruguaiana, ampliou a Escola Militar e criou o Regulamento para a Disciplina e Serviços Internos dos Corpos Arregimentados dos Quartéis Fixos, embrião do atual Regulamento Interno e dos Serviços Gerais (RISG).
Em 1878, quando do regresso de Pedro II, veio o golpe fatal. O Imperador só aceitou sua saída com a substituição de todo o ministério por um outro do partido adversário. Era o início do fim.
No dia 7 de maio de 1880, deixou-nos o velho marechal, o Duque de Caxias. Seis soldados, dentre os de melhor comportamento, carregaram o corpo do maior cabo-de-guerra das Américas, o maior de todos os soldados brasileiros.

Foi-se o velho marechal que nos deixou um elevado legado de valores, virtudes, atributos e qualidades imorredouras: simplicidade na grandeza, soldado modelo, ilibado chefe político, bondade infinita, disciplina incondicional, lealdade irrestrita, inteira dedicação à Pátria, iniciativa, comando, inteligência, bravura, coragem e triunfo. 

O Patrono do Exército é o próprio espírito de justiça, disciplina, lealdade e severidade. 

O exemplo de sua vida é um revigorado incentivo às atuais gerações de militares.


Referência:

Carvalho, Affonso de. Caxias. 3 ed. Rio de Janeiro: Bibliex, 1991.


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