domingo, 10 de janeiro de 2016

Complexo Industrial-Militar de Israel

Este artigo foi elaborado como requisito da Disciplina Geopolítica do Curso de Comando e Estado Maior da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), tendo como objetivo analisar qual a concepção estratégica do Estado de Israel no que se refere ao tripé que sustenta o seu complexo industrial-militar.

Carlos Evando dos Santos
30 Out 2015

O General (Gen) Dwight David Eisenhower, no seu discurso de despedida da Presidência dos Estados Unidos da América (EUA), pronunciado em 17 de janeiro de 1961 e transmitido em cadeia de rádio e televisão, expôs as tensões políticas, econômicas e militares ligadas ao complexo industrial-militar que, segundo ele, se reforçou consideravelmente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A expressão foi utilizada, então, pela primeira vez para definir o sistema e a interação que envolve o Governo de um país, suas Forças Armadas e a sua Indústria de Defesa & Segurança.
O complexo industrial-militar, bem explorado por Fred J. Cook em sua obra O Estado Militarista (Civilização Brasileira, 1966, 342 páginas) compreende o governo de um país, suas Forças Armadas e sua base industrial, particularmente a vertente voltada para o Setor de Defesa & Segurança. Entretanto, o que caracteriza e que “dá vida”, de fato, ao complexo industrial-militar é a interação existente entre os três elementos constitutivos do tripé citado pelo Gen Eisenhower e o alinhamento com os objetivos políticos (“o que fazer”) e com a estratégia traçada (“como fazer”) para o atingimento de tais objetivos.
Para Eisenhower, o estímulo ao amplo conjunto de forças integrantes do complexo industrial-militar pode constituir um grande “perigo” para a sociedade, embora, em raciocínio lógico, defendesse o complexo como vital para a defesa e a segurança do país. Certa feita, o experiente Comandante Supremo das Forças Aliadas no Teatro de Operações Europeu durante a fase final da Segunda Guerra Mundial recomendou cautela no desenvolvimento e na manutenção de tal complexo, a fim de não chegar ao ponto de o país possuir um poderio militar demasiado grande, o qual pode vir a se tornar influente demais ou, em outras palavras, ganhar “vida própria”.
O Gen Eisenhower chamou a atenção para a mudança da natureza do sistema norte-americano de defesa desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo ele, os EUA não poderiam mais “se permitir ao luxo de uma improvisação de emergência”, que caracterizou a preparação do país para a guerra contra o Eixo. Em vez disso, o país estava “compelido a criar uma indústria permanente de armamentos” e a “montar uma enorme força militar”. Admitiu também que a Guerra Fria (1) deixava clara a “imperativa necessidade de seu desenvolvimento”, mas se mostrou enormemente preocupado sobre a “injustificada influência que o complexo industrial-militar estava crescentemente conquistando". Em especial, alertou a nação contra a possibilidade de essa política pública tornar-se prisioneira de uma elite científico-tecnológica.
A partir dessa abordagem inicial, seguiremos com a análise dos componentes do tripé do complexo industrial-militar israelense: o Governo, as Forças de Defesa de Israel (FDI) e sua Indústria de Defesa & Segurança, a fim de identificar qual é a concepção estratégica do Estado Judeu nesse sentido.

O Estado de Israel
Israel é uma república democrática e parlamentarista. O país está dividido em seis distritos, subdivididos em municipalidades. Não há constituição escrita. O Chefe de Estado é o Presidente da República, que exerce as funções de representações oficiais e, no caso de Israel, funções simbólicas ligadas ao Judaísmo. O Chefe de Governo e do Gabinete é o Primeiro-Ministro, normalmente o líder do maior partido no Parlamento. Os principais partidos políticos são: Beytenu, Hatnua, Lar Judaico, Likud, Kadima, Trabalhista e Yesh Atid (em ordem alfabética). O Congresso Israelense, o Knesset, é unicameral e possui cento e vinte membros que representam proporcionalmente as legendas partidárias do país (ABRIL, 2015).
Israel possui uma área territorial de apenas 20.918 km2, menor, portanto, que Sergipe, o menor estado brasileiro, que possui 21.915 km2. Tem como limites o Líbano ao norte, o Egito ao sul, o Mar Mediterrâneo a oeste e a Jordânia a leste. Com uma população de 7,8 milhões de habitantes, menor do que a da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, as principais cidades israelenses são: Jerusalém (815.300), Tel Aviv (414.600), Haifa (272.200) e Rishon Leziyyon (235.100). A densidade demográfica é de quase 373 hab/km2 (a do Brasil é de apenas 24 hab/km2). A expectativa de vida é de 81 anos. A população é composta de 41% de israelenses nativos, 40% de europeus, africanos, americanos e médio-orientais e 19% de árabes. Os idiomas falados são o hebraico, o inglês e o árabe. A taxa de analfabetismo é virtualmente nula. Aproximadamente 73% da população segue a religião judaica, enquanto que 20% são islâmicos, 5% agnósticos ou ateus e 4% declaram outras religiões (ABRIL, 2015).
O Estado de Israel é marcado por uma cultura que, eminentemente, valoriza a coletividade mais do que a individualidade (BUTLER, 2011), o que constitui um traço marcante que caracteriza a civilização judaica, cujas principais fontes de consulta estão inseridas nos Livros do Antigo Testamento da Bíblia Sagrada.
De acordo com o Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), Israel teve, em 2012, um índice de desenvolvimento humano (IDH) de 0.900, o 16º maior do mundo, o que contribui com a alta expectativa de vida (81 anos), a educação e a renda no país, fatores que sempre tiveram grande influência na taxa de empreendedorismo (UNITED NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 2013).
No tocante à economia, segundo dados de 2015 do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) de Israel alcançou a cifra de US$ 305 bilhões no ano de 2014, configurando-se na 37ª maior economia do mundo. A renda per capita israelense é de US$ 31.985, ocupando a 28ª posição no ranking mundial.
Nascido, oficialmente, no dia 14 de maio de 1948, o Estado de Israel é o protagonista da maioria dos conflitos no Oriente Médio (2). Sua fundação provocou uma das mais complexas disputas territoriais da atualidade, envolvendo israelenses e árabes-palestinos, que habitam a Região da Palestina Histórica há séculos e exigem permanecer naquelas terras.
O maior símbolo da situação em que vive o país é o status de Jerusalém, cidade sagrada para três religiões: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. A cidade encontra-se, atualmente, sob o controle quase que absoluto de Israel, incluindo Jerusalém Oriental (Cidade Velha), paradoxalmente, onde ficam locais sagrados do Islamismo.
É possível afirmar que Israel é uma “ilha” cercada de inimigos, a partir da constatação de que mantém permanentes tensões com os palestinos [Autoridade Nacional Palestina (ANP) e os grupos fundamentalistas Hamas (3) e Fatah (4)], com o Irã (por conta do programa nuclear iraniano, do financiamento ao Hezbollah (5), da aliança persa com a Síria e do objetivo permanente de Teerã de destruir o Estado de Israel), com a Turquia (um incidente diplomático em 2010, depois do apoio turco ao Hamas na Faixa de Gaza, gerou tensões entre os dois países), com a Síria (por conta das Colinas de Golã, ocupadas por Israel desde a Guerra dos Seis Dias em 1967) e com o Líbano (que abriga o grupo extremista Hezbollah, estabelecido no sul libanês, na fronteira norte israelense).
Os Objetivos Nacionais de Israel são os seguintes: 1) garantir a existência do Estado de Israel, proteger sua integridade territorial e os seus cidadãos; 2) defender os valores do Estado de Israel e seu caráter como “lar judaico” e democrático para o povo judeu; 3) manter a resiliência social e econômica; e 4) reforçar o estatuto nacional e regional de Israel e se esforçar para manter a paz com os seus vizinhos (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
As transformações ocorridas no ambiente estratégico internacional e regional nos últimos anos produziram mudanças na natureza e na força das ameaças à existência do Estado de Israel. As ameaças convencionais diminuíram consideravelmente, enquanto que as não convencionais aumentaram [organizações terroristas, forças subterrâneas, armas de trajetória alta (foguetes e mísseis), guerra no ciberespaço etc].
As ameaças atualmente identificadas, mapeadas, monitoradas e enfrentadas pelo Estado de Israel são: o Irã (mais distante), o Líbano (nas proximidades), a Síria (atualmente um estado falido e em desintegração); as organizações não-estatais (Hezbollah e Hamas); e as organizações terroristas sem ligações a qualquer estado ou comunidade particular [Jihad Islâmica da Palestina (6), Estado Islâmico (ISIS) (7) e outros] (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
Para enfrentar essas ameaças, o Estado de Israel definiu sua abordagem de Defesa & Segurança baseada nos seguintes fatores: poder de dissuasão, alerta precoce, defesa e decisão (ou ação) rápida. Além disso, percebeu-se a necessidade de aumentar as capacidades das FDI, as quais devem estar preparadas para ataques simultâneos em várias frentes (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
Em estado de prontidão desde sua criação em 1948, o Estado de Israel confere um grande espaço às suas forças militares no cenário nacional. A influência militar excede a questão da Segurança Nacional e penetra nos campos político, econômico e científico. Tudo que se refere à vida cotidiana (distribuição de água, eletricidade, combustível, utilização de potencial humano, comunicação, transportes terrestres, aéreos e marítimos, assim como todos os serviços de um país desenvolvido) é planejado em estreita coordenação e interação com os responsáveis pela Defesa & Segurança Nacional, a fim de preparar constantemente o país para um eventual estado de emergência ou de guerra.
Uma industrialização forte voltada para a Defesa resulta em uma macroeconomia capaz de se aproveitar de spin-offs (8), criando inovações que beneficiam todos os setores da economia (BROUDE, 2013).
Da análise realizada, é possível afirmar que Israel é um Estado forte, embora democrático, desenvolvido econômica e socialmente, baseado no direito consuetudinário e fortemente influenciado pelo Judaísmo, a primeira religião monoteísta da História, fundada por Abraão, o grande patriarca dos hebreus, antepassados dos judeus. Com um território minúsculo, é a 37ª maior economia do mundo, apesar de contar com terras áridas e desérticas e com restrições de recursos naturais, como a água. Desde sua fundação em 1948, Israel luta por sua sobrevivência como Estado, haja vista a existência de grupos fundamentalistas e Estados nacionais que pregam a sua destruição, como o Hamas, o Hezbollah e o Irã. Em função disso, o poder nacional israelense trabalha com uma Estratégia de Defesa & Segurança unificada, sob os pontos de vista político, econômico, militar, psicossocial e científico-tecnológico, fortemente influenciada pelo poder militar e promotora do complexo industrial-militar israelense, o qual gera divisas importantes para o país.

As Forças Armadas Israelenses
As Forças Armadas Israelenses, denominadas Forças de Defesa de Israel (FDI ou IDF na sigla em inglês), são constituídas por Exército (efetivo de 133.000 militares), Marinha (9.500) e Força Aérea (34.000), totalizando 176.500 homens e mulheres. Os gastos com a Defesa no ano de 2013 atingiram a cifra de US$ 15,2 bilhões, representando cerca de 5% do PIB nacional israelense, que naquele ano foi de US$ 291 bilhões (ABRIL, 2015).
O poder de dissuasão de Israel, que conta com a vantagem relativa das FDI em relação às ameaças levantadas, ainda existe, mas é menor em comparação com o passado, até mesmo porque as ameaças mudaram. A concepção atual prevê que a dissuasão deve ser específica e adaptada a cada ameaça ou inimigo (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
As FDI surgiram, principalmente, a partir das milícias Haganá, Gangue Stern e Irgun que, no início da Guerra de Independência de Israel (1948-1949), contavam com cerca de trinta mil homens. Desde então, os soldados israelenses destacam-se como combatentes muito bem treinados e motivados. Os efetivos da Haganá triplicaram até o final daqueles embates, chegando a contar com noventa e quatro mil homens no fim de 1948 (MAGNOLI, 2011). Desde então, é possível constatar a elevada capacidade de mobilização de Israel, além de seus soldados disporem de elevado moral; não sendo exagerado afirmar que seus combatentes lutaram (e lutam até hoje) com a consciência de que estão guerreando pela terra que Deus prometeu a Abraão, a Isaque e a Jacó, os grandes patriarcas do povo judeu.
O poderoso arsenal de guerra de Israel, segundo alguns especialistas, conta na atualidade, inclusive, com armas nucleares, negadas pelos israelenses e jamais confirmadas, pois o Estado Judeu não aceita inspeções internacionais em seu território por parte da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) (ABRIL, 2015).
A maioria dos israelenses são convocados para o serviço militar obrigatório aos dezoito anos de idade. Homens devem servir por três anos e as mulheres por dois. Na sequência do serviço obrigatório, os homens israelenses juntam-se à Força Militar de Reserva por várias semanas a cada ano até completar quarenta anos de idade. A maioria das mulheres estão isentas do serviço de reserva. Os árabes israelenses, com exceção dos drusos (9), e aqueles que exercem estudos religiosos em tempo integral estão isentos do serviço militar.
A missão fundamental das FDI é garantir a integridade territorial e a soberania do Estado de Israel e a segurança de seus cidadãos. Em estreito relacionamento com o escalão político, está voltada para a promoção da Política de Segurança Nacional e a garantia dos interesses nacionais vitais do Estado. Em ordem de prioridade, as FDI devem: impedir que o inimigo atinja ganhos territoriais no final dos conflitos; combater o terrorismo e os ataques nas fronteiras; defender a “Casa de Israel” contra foguetes e mísseis; e prover a defesa do ar, do mar e do ciberespaço israelenses (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
No âmbito das FDI, há uma perfeita compreensão de que as forças militares são a garantia nacional da existência do Estado de Israel. Portanto, devem estar em condições de prontidão para fornecer a segurança do Estado Judeu em qualquer situação, utilizando para isso capacidades fundamentais dos seus comandantes e tropas: espírito de luta, iniciativa, qualidade da ação e desempenho completo e intransigente das missões recebidas (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
Israel possui um dos poderes militares mais formidáveis e sofisticados do mundo. Com equipamentos de última geração, o Estado Judeu conta com o inestimável apoio dos EUA, por intermédio do Financiamento Militar Estrangeiro (FME). Há uma previsão de que Israel receba, no espaço temporal de 2009 a 2018, um total de US$ 30 bilhões em ajuda militar de Washington. Segundo o Congresso norte-americano, Israel é o maior receptor do FME, pois somente em 2015 receberá 55% do desembolso total dos subsídios. Essa quantia representa entre 23% e 25% do orçamento militar anual israelense (DEEN, 2015).
As FDI dependem de sistemas de armas de alta tecnologia concebidos e fabricados em Israel, combinados com elevadas importações de produtos de defesa. Os maiores fornecedores de armas estrangeiros para as FDI são: EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Itália, Coreia do Sul, Bélgica, Espanha, República Checa, Turquia, Canadá, Hungria, Suécia e Áustria. O míssil Arrow, desenvolvido em parceria com os norte-americanos (IAI-Boeing), é um dos únicos sistemas de mísseis antibalísticos em operação no mundo. Desde a Guerra do Yom Kippur (1973), Israel tem desenvolvido uma rede de satélites de reconhecimento. O sucesso do Programa Ofeq (10) fez de Israel um dos nove países capazes de projetar, fabricar e lançar satélites desse tipo, de forma independente. O país também desenvolveu o seu próprio carro de combate, o Merkava, um dos melhores blindados do mundo (WIKIPEDIA, 2015).
A construção de força das FDI está sujeita às tensões entre a segurança necessária, às limitações de recursos financeiros e às velocidades de reforço e de mudanças no ambiente estratégico e operacional. As FDI operam sob restrição permanente de recursos (a exemplo da maioria dos países), que é agravada nos estados de emergência e de guerra. Lidar com essa limitação provoca uma série de medidas práticas a adotar permanentemente, tais como: utilização máxima dos recursos do Plano Estatal Plurianual, manutenção de uma base de colaboração inter-organizacional e inter-países no desenvolvimento de produtos de defesa com o maior número possível de possibilidades (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
A Concepção Estratégica das FDI basea-se nos interesses vitais israelenses, a partir dos pressupostos básicos da Defesa & Segurança Nacional e os princípios gerais do pensamento militar israelense. Sabiamente, integra as bases da Segurança Nacional com os princípios e regras das doutrinas militares, evidenciando o forte relacionamento existente entre o setor político e o setor militar do país.
Nesse contexto, o planejamento das FDI para a condução das situações de conflito, qualquer que seja a ameaça, baseia-se no conceito de comando multidisciplinar (político, econômico, militar, jurídico e social), o que caracteriza uma lógica estratégica unificada.
Seguindo a concepção de Defesa & Segurança adotada pelo Estado de Israel, as FDI estabeleceram como princípios fundamentais: 1) resiliência na defensiva para garantir a existência de Israel, manter um poder de dissuasão eficaz, neutralizar ameaças quando necessário e evitar confrontos; 2) ofensiva, quando necessário, para alcançar resultados militares claros e decisivos, atingir os objetivos políticos em conformidade com o direito internacional e salvaguardar a legitimidade de Israel; 3) cooperação estratégica, reforçando as relações com os EUA, desenvolvendo relações estratégicas com outras nações-chave e estabelecendo e/ou reforçando áreas de apoio em todo o mundo; 4) melhoria das relações israelenses no âmbito regional, reforçando os acordos de paz e maximizando o potencial de cooperação com entidades moderadas na região; e 5) manutenção da vantagem relativa com base na qualidade humana, nos meios tecnológicos avançados e na inteligência (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
Na caracterização do ambiente opreacional no qual as FDI podem estar envolvidas, a Estratégia das FDI prevê: 1) declínio das ameaças militares estatais regulares e um aumento nas ameaças de organizações não-estatais e irregulares ou semi-regulares apoiadas pelo Irã; 2) aumento das ameaças à população civil e a tentativa de infligir uma ameaça estratégica contra manchas nacionais fracas e a economia do Estado; 3) infiltração do inimigo em áreas civis habitadas, a fim de aumentar os danos colaterais entre os não-combatentes e de prejudicar a liberdade de ação das FDI; 4) exploração por parte do inimigo de capacidades de combate destinadas a impedir e perturbar os esforços das FDI em terra, no ar e no mar, para compensar as suas vantagens tecnológicas, maximizar o número de vítimas civis e militares e para intensificar a pressão estratégica contra Israel; e 5) abordagem multi-dimensional durante o conflito e entre eles, incluindo a guerra cibernética, com esforços para sensibilização do público nacional e estrangeiro, atividades terroristas em Israel e no exterior e seqüestro de civis e de soldados como moeda de barganha (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
A variedade de operações para as quais as FDI devem estar preparadas deve abarcar três situações funcionais: rotina, emergência e guerra (REW, na sigla em inglês). A situação funcional será definida  pelo Chefe do Estado-Maior Geral das FDI. Em qualquer uma delas é fundamental a manutenção do diálogo com o escalão político para a definição da situação política e tomada de decisões a fim de arregimentar os recursos estatais necessários (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
As diretrizes básicas para o preparo e emprego das FDI são: evitar os confrontos e dissuadir o inimigo; alerta e inteligência; defesa (impedir qualquer ganho territorial ao final de um conflito); proteção nas quatro dimensões (terra, mar, ar e cibernética); usar a superioridade militar para alcançar os objetivos políticos e melhorar a situação estratégica de Israel; manter a continuidade dos esforços econômicos e de combate; e derrotar o inimigo em cada encontro (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
A partir da análise da concepção estratégica, da composição, dos gastos militares e da forma como as Forças de Defesa de Israel (FDI) se preparam para a execução da defesa da “Casa de Israel” e da manutenção da segurança de seus cidadãos, é possível concluir que o Estado Judeu é, sem dúvidas, uma fortaleza militar. Entretanto, sua superioridade bélica não é capaz de garantir a segurança total de seus cidadãos nem a imposição da paz na região do Oriente Médio. Por isso, Israel considera a necessidade de estar permanentemente preparado para qualquer uma das três situações funcionais possíveis: rotina, emergência e guerra (REW). A Estratégia das FDI está calcada numa lógica unificada envolvendo todas as expressões do Poder Nacional e na construção de força para dissuadir qualquer ameaça ao Estado de Israel, seja ela estatal ou não-estatal. Para isso, as FDI contam com um capital humano altamente motivado e preparado, a prontidão, a elevada capacidade de mobilização nacional, a Força Militar de Reserva, os recursos nacionais e os oriundos de financiamento externo, notadamente dos EUA, e com tecnologias militares de ponta, nacionais e importadas.

A Indústria de Defesa & Segurança Israelense
Israel foi o país que mais cresceu em matéria de empreendedorismo nos últimos anos. Em seus quase setenta anos de existência, a nação se tornou uma potência em matéria de inovação e tecnologia, em grande parte devido aos altos investimentos nacionais e estrangeiros (APSAN, 2014).
Com ajuda financeira e militar dos EUA e de judeus residentes em outros países, Israel tornou-se a economia mais desenvolvida do Oriente Médio (ABRIL, 2015). O país pratica técnicas modernas de agricultura em terras áridas e conta com indústrias de ponta. Na pauta de exportações israelenses estão manufaturados básicos, máquinas e equipamentos de transporte, substâncias químicas e derivados, combustíveis minerais, lubrificantes e produtos de defesa. As principais importações são: máquinas e equipamentos de transporte, combustíveis minerais e lubrificantes, manufaturados básicos, substâncias químicas e produtos de defesa. Os principais parceiros comerciais de Israel são: EUA, Hong Kong, Reino Unido, Bélgica, China, Alemanha, Suíça e Bélgica (ABRIL, 2015).
No ramo da Indústria de Defesa & Segurança, ambiente notadamente criativo e dinâmico, empresas israelenses têm se destacado em tecnologias de ponta e no estabelecimento de parcerias estratégicas ao redor do mundo, o que lhes permite participar do desenvolvimento e da fabricação de diversificados e sofisticados produtos de defesa, o que garante a Israel figurar entre os países que estão na dianteira mundial nessa área, juntamente com os EUA, Rússia, Alemanha, Reino Unido, França e Suécia, entre outros.
A interação entre os poderes político, econômico e militar com a Indústria de Defesa & Segurança de Israel é permanente e intensa. As armas, a tecnologia militar e o conhecimento são valorizados porque fazem parte do arcabouço de defesa de Israel, o que garante não somente a sua existência como Estado, mas também a segurança do povo judeu. As armas são testadas no campo, nas guerras e nos conflitos contra os palestinos e quaisquer outras ameaças, como os grupos fundamentalistas Hamas e Hezbollah.
Sobre a influência da Indústria de Defesa & Segurança, é possível afirmar, em países que a mantém em elevado grau de desenvolvimento, como os EUA por exemplo, a expressiva presença de empresas do setor entre os financiadores de campanha eleitorais e a ampla abrangência dos partidos receptores desses recursos, sejam eles da base governista ou dos grupos de oposição.
FELDMAN (2013) afirma que o Ministério da Defesa de Israel desempenha um papel duplo como a autoridade que acompanha o sistema militar e como promotor de vendas para a indústria militar no estrangeiro. O Exército Israelense estimula a atividade industrial militar no país, por meio da qual se busca a independência em relação a países estrangeiros para evitar riscos de embargos, como ocorreu na Guerra dos Seis Dias em 1967, quando a França interrompeu o fornecimento de armas a Israel.
Além disso, o Exército Israelense está presente também na indústria farmacêutica, de alimentação, de embalagens, entre outras, e desempenha um papel primordial na pesquisa científica. Oficiais da Reserva ocupam postos importantes em todos os setores. Muitos deles se tornam diretores de empresas governamentais ou privadas, são eleitos prefeitos ou membros do Parlamento (Knesset), nomeados ministros ou professores em universidades (KAPELIOUK, 2015).
Apesar da diminuição da venda de armas no âmbito mundial em 2014, a produção militar israelense tem progredido. O fluxo comercial bélico assegura divisas mais vultuosas para Israel do que as geradas pelos cítricos ou pelo diamante, que constam como itens importantes da economia israelense. Israel é, hoje, um dos grandes exportadores mundiais de produtos de defesa. A indústria aeroespacial tornou-se o setor que mais emprega no país, com aproximadamente vinte mil assalariados.
Israel é responsável por 2% das armas exportadas no mundo e já foi acusado de não divulgar todos os seus acordos. Os principais destinos de armas israelenses são a Índia (33%) e Turquia (13%). Os principais produtos exportados são armas leves (fuzis, pistolas e metralhadoras), mísseis e foguetes, sistemas de vigilância, de comando e controle e aeronaves não tripuladas. O setor militar israelense exportou US$ 7 bilhões em produtos de defesa nos últimos anos, o equivalente a cerca de 85% de suas vendas (FREDERICO, 2015).
A Elbit Systems é uma das maiores empresas militares israelenses e uma das maiores fabricantes de drones, armas e outras tecnologias que constituem parte fundamental do aparelho militar de Israel. A companhia, que inclui a Elbit Systems e suas subsidiárias, atua no desenvolvimento de sistemas para aeronaves de asas fixas, aeronaves de asas rotativas, aeronaves remotamente pilotadas, segurança pública, blindados, comunicações, tropas a pé, optrônicos, suporte logístico, espaciais e simuladores. São exemplos de produtos da Elbit Systems as aeronaves remotamente pilotadas Hermes 90, Hermes 450, Hermes 900, Elbit Skylark, Silver Arrow Micro-V e Silver Arrow Snipe. Por meio de sua subsidiária AEL Sistemas, a Elbit estabeleceu uma parceria estratégica que dura até os de hoje com a Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER), a fim de modernizar os caças F-5 da Força Aérea Brasileira (FAB). Subsequente ao contrato de modernização dos F-5 da FAB, em 2012 foi firmado um contrato semelhante para modernização dos caças brasileiros AMX, de origem italiana. Atualmente, a AEL Sistemas está tendo participação relevante no desenvolvimento da aeronave KC-390 (11), que será a espinha dorsal da logística aérea das Forças Armadas Brasileiras nas próximas décadas. Também existem negociações para repetir essa parceria no desenvolvimento da participação brasileira no desenvolvimento e na fabricação do caça sueco Gripen NG (12), do Projeto FX-2 (13) da FAB, recém adquirido pelo governo brasileiro junto à empresa sueca SAAB. Além da atuação israelense nos projetos de aeronaves, a AEL Sistemas atua também no ramo de satélites, sensores, comunicação e simuladores. A AEL fornecerá as torres automatizadas para o blindado brasileiro Guarani (14), fabricado pela Iveco Segurança & Defesa, cuja encomenda prevista é de dois mil e quarenta e quatro unidades para os próximos vinte anos (ELBIT SYSTEMS, 2015).
Em 2013, a empresa israelense Global Shield forneceu oito veículos blindados (popularmente conhecidos como “caveirões”) ao Batalhão de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar e à Coordenadoria de Recursos Especiais (CORE) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Esses veículos foram fornecidos com preços abaixo dos praticados no mercado (cerca de 70%) sob a justificativa de que a cidade funcionaria, por causa dos Grandes Eventos (Copa das Confederações FIFA 2013, Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos 2016), como estande de exposição (show room) de produtos israelenses de Defesa & Segurança para o mundo. Além da venda, a Global Shield ofertou a gestão da frota e a manutenção por cinco anos. A parceria estratégica Brasil-Israel no campo armamentista não está em desarmonia com o que acontece no mundo todo. Na verdade, faz parte de um conjunto mais amplo de fusões, aquisições e formação de uma imensa massa de capital aplicado na pesquisa, produção e consumo de produtos de defesa (GLOBAL SHIELD, 2015).
A Israel Weapon Industries (IWI) é uma empresa israelense fabricante de armas de fogo, munições e tecnologia militar para as FDI. A metralhadora Uzi é uma das mais populares do mundo, por conta de sua natureza compacta e de sua confiabilidade. Destacam-se ainda, como produtos da IWI, a metralhadora Negev, a pistola semiautomática Jericho 941 e o fuzil de combate Tavor. A IWI fabrica também munições para armas de fogo, artilharia, carros de combate e mísseis ar-terra. São modelos da IWI: fuzis de combate Galil e Tavor, metralhadoras Negev e Uzi, pistolas Jericho 941 e Desert Eagle, revólver SP-21 Barak, mísseis e foguetes MAPATS ATGM, Delilah, IWI 120 mm e LAR-160. O carro de combate Merkava, de fabricação israelense por intermédio da IWI, é um dos blindados mais modernos do mundo. Entrou em operação em 1979 e, atualmente, está na sua quarta versão, o Merkava MK-IV. Dotado de canhão de 120 mm com alcance de 5,5 km e metralhadora de 12,7 mm Browning M2, o Merkava MK-IV tem alcance operativo de 500 km, podendo atingir uma velocidade de 65 km/h (ISRAEL WEAPON INDUSTRIES, 2015).
A Hagor Industries, fundada em 1952, é uma empresa israelense experiente na produção de equipamentos militares. Seu portfólio inclui produtos de alta qualidade de proteção individual, coletes à prova de balas, além de sacos de dormir, kit de bolsas, camas de campanha, barracas militares, veículos e sistemas diversos. Essa empresa detém um contrato com a Marinha do Brasil para fornecimento de materiais como placas e coletes balísticos (HAGOR INDUSTRIES, 2015).
A Israel Aerospace Industries (IAI) é a maior empresa de defesa aeroespacial sob controle do Governo de Israel. É um centro de excelência na área tecnológica que mantém um extenso campo de desenvolvimento e pesquisa nos diversos campos da engenharia. É a maior empregadora de engenheiros israelenses. Seu portfólio de produtos abarca: satélites e sistemas espaciais, sistemas de defesa, mísseis, aeronaves de alerta precoce, sistemas aéreos não tripulados, radar e inteligência eletrônica, conversões de aeronaves, sistemas estratégicos de comando e controle, soluções cibernéticas e robótica. A IAI desenvolveu e fabricou de maneira independente pelo menos treze satélites comerciais, de pesquisas e de espionagem. A maioria foi lançada à órbita terrestre a partir da base da Força Aérea Israelense de Palmachim, na costa mediterrânea, ao sul de Tel Aviv, por veículos lançadores de satélites Shavit. Alguns dos satélites de Israel classificam-se entre os sistemas espaciais mais avançados do mundo, como o satélite de espionagem Ofeq 9, equipado com câmera de alta resolução, lançado em 2010 a partir da base de Palmachim (ISRAEL AEROSPACE INDUSTRIES, 2015).
A Rafael Advanced Defense Systems conquistou posição de liderança como colaboradora e fabricante qualificada de sistemas avançados de armas no mercado de defesa aérea. A empresa tem apresentado um portfólio de produtos como o RAD-SOS, o Domo de Ferro (Iron Dome, em inglês), o David’s Sling, o Spyder e o Barak I, sendo que todos os sistemas permitem plena interoperabilidade e capacidade de integração com outros componentes. O Rafael's Air Defense System Of Systems (RAD-SOS) fornece uma solução completa, garantindo supremacia tática contra um amplo conjunto de ameaças aéreas e de mísseis. Está baseado num conceito com múltiplas camadas, que foi concebido para proporcionar a melhor proteção possível contra todas as ameaças aéreas atuais e futuras. O conceito de camadas é formado por dois sistemas de camada dupla, que lidam de maneira eficaz com dois tipos diferentes de ameaças. Estes sistemas são modulares, porém fornecem o máximo de interoperabilidade e conectividade. Os sistemas de defesa antimísseis Iron Dome e David's Sling fornecem soluções abrangentes. O Iron Dome é utilizado na defesa contra mísseis de curto alcance, enquanto o David's Sling, produzido e desenvolvido em conjunto com a Raytheon, é usado contra mísseis de médio e longo alcance, mísseis balísticos de curto alcance e mísseis de cruzeiros. O Domo de Ferro (Iron Dome) é uma solução eficiente e inovadora de defesa para combater foguetes e projéteis de artilharia de curto alcance, podendo agir em um raio de até 70 km em todas as condições meteorológicas, incluindo nuvens baixas, chuva, tempestades de poeira ou neblina. O Iron Dome é a vedete da indústria armamentista e aumentou ainda mais a fama das empresas israelenses. O sistema utiliza um interceptor único, com uma ogiva especial que detona qualquer alvo no ar em poucos segundos.  É eficaz em ações com tiros simultâneos de um grande número de ameaças.   O sistema é facilmente integrado com outros radares e sistemas de detecção.  O interceptor é lançado verticalmente com uma ogiva altamente eficaz e um sistema de fusíveis por proximidade para garantir a detonação e destruição do alvo.  Ele oferece um alto índice de sucesso na interceptação de projéteis e foguetes, além de causar redução de danos colaterais provenientes de detritos. O Domo de Ferro tem sido uma arma altamente eficiente e eficaz contra os foguetes disparados pelo grupo fundamentalista Hamas a partir da Faixa de Gaza contra a “Casa de Israel”. A outra solução dupla oferecida pela Rafael é a família Spyder de sistemas de defesa aérea. O Spyder-SR é um sistema de defesa aérea de curto alcance com lançamento inclinado, enquanto o Spyder-MR é um sistema de médio alcance com lançamento vertical. Os sistemas são capazes de engajamento simultâneo com vários alvos e tiros únicos, múltiplos ou rajadas, dia e noite, sob todas as condições meteorológicas. O Barak I é um sistema naval de mísseis usado na defesa de áreas limitadas. O sistema é projetado especificamente para combater ameaças aéreas existentes e futuras contra navios, incluindo mísseis supersônicos que tangenciam a superfície do mar. O sistema permite operação de dia e à noite e em condições meteorológicas adversas. O Barak I já está operacional em diversas marinhas, incluindo a de Israel (RAFAEL ADVANCED DEFENSE SYSTEMS, 2015).
A Ares Aeroespacial e Defesa é uma das subsidiárias da Elbit Systems. Com atuação no Brasil há mais de 45 anos, a empresa fornece soluções tecnológicas em equipamentos e sistemas customizados em ambiente de cooperação no desenvolvimento de novas tecnologias e soluções em conjunto com as Forças Armadas, centros de pesquisa e universidades. A concentração de atividades da Ares está no planejamento, projeto, desenvolvimento, fabricação, integração, manutenção e comercialização de produtos em três principais linhas de negócios: estações de armas, sistemas navais e sistemas ópticos. A Ares é uma das líderes mundiais no fornecimento de sistemas de defesa, garantindo o aumento da oferta de novas tecnologias para uso militar e, consequentemente, contribuindo para o desenvolvimento nacional e para o aumento das divisas de Israel (ARES AEROESPACIAL E DEFESA, 2015).
Da análise do parque industrial israelense, particularmente do ramo de Defesa & Segurança, é possível verificar que o setor contribui decisivamente para que Israel seja a economia mais desenvolvida do Oriente Médio e um país voltado para o empreendedorismo, a inovação e a pesquisa científica. No país estão instaladas indústrias de ponta, que abastecem não somente o mercado interno, mas exportam produtos de defesa mundo afora. O comércio de armas, estimulado por parcerias estratégicas estabelecidas com vários países, geram importantes divisas que contribuem para o desenvolvimento nacional e também para a geração de poder das FDI. O setor industrial é influenciado pelos militares e influencia o setor político, seja por meio do financiamento de campanhas eleitorais, seja pela inserção de militares e empresários no meio político. O Ministério da Defesa de Israel é um dos principais promotores da indústria de Defesa & Segurança Nacional. O setor aeroespacial ocupa lugar de destaque no contexto mundial, inserindo o Estado de Israel no seleto grupo de países capazes de fabricar e lançar satélites na órbita da Terra. Existem muitas empresas no país voltadas para o setor de Defesa & Segurança, notadamente: Elbit Systems e suas subsidiárias, Global Shield, Israel Weapon Industries (IWI), Hagor Industries, Israel Aerospace Industries (IAI), Rafael Advanced Defense Systems e Ares Aeroespacial e Defesa, entre outras. Os principais produtos fabricados e/ou exportados são: aeronaves remotamente pilotadas, fuzis, pistolas, metralhadoras, munições, mísseis, blindados voltados para a Segurança Pública, carros de combate, materiais de proteção individual, radares, sistemas de comando e controle, robótica, sistemas de proteção de artilharia antiaérea, sistemas navais e sistemas ópticos, entre outros.

Conclusão
Em 1961, o grande chefe militar e estadista Dwight David Eisenhower, em seu discurso oficial de despedida da Presidência dos EUA, já naquela época a maior potência militar do planeta, inaugurou a definição da expressão complexo industrial-militar, que ganharia o mundo como o “jogo de relações, estímulos e influências” entre os entes estatais do governo de um país e de suas Forças Armadas e, ainda, os empresários ligados ao Setor de Defesa & Segurança. Na ocasião, o líder norte-americano mostrou-se preocupado com o estabelecimento de uma “indústria de guerra” que poderia tornar-se influente demais e dar as cartas no plano interno e no concerto das nações. E foi o que aconteceu, particularmente em sua terra natal, mas também em outros países, como é o caso de Israel, objeto da análise deste artigo. Portanto, as preocupações de Eisenhower confirmaram-se e estenderam-se além das fronteiras estadunidenses.
O objetivo proposto deste artigo foi analisar a concepção estratégica do Estado de Israel no que se refere ao tripé que sustenta o seu complexo industrial-militar. Pelo analisado, é possível concluir que Israel tem uma concepção estratégica voltada fortemente para o seu complexo industrial-militar, pois é sabido por todos que esse conjunto, na verdade, é o que garante a sua existência como Estado nacional soberano numa região repleta de inimigos e ameaças que pregam a sua destruição. Para Israel, a guerra não é um evento extraordinário, dramático e inesperado. Ao contrário, a guerra é uma atividade periódica que é parte da vida nacional judaica. Ainda, a indústria de produtos de defesa israelense é uma questão de interesse econômico nacional, como fonte de recursos financeiros essenciais. O Ministério da Defesa de Israel desempenha duplo papel como autoridade que acompanha o aparato militar e como promotor de vendas da indústria militar israelense no estrangeiro, assegurando importantes divisas para o país. Os laços são muito próximos entre as indústrias militares, por um lado, e as FDI e as demais expressões do Poder Nacional, de outro.
O Estado Judeu possui um regime político democrático estável e forte, voltado para a defesa intransigente do seu território (conquistado a duras penas em guerras sangrentas) e para a segurança de seus cidadãos e de seus habitantes.
As Forças de Defesa de Israel (FDI) figuram entre as melhores Forças Armadas do mundo. São bem concebidas, bem treinadas e bem adestradas para o cumprimento de sua missão básica que é dissuadir quaisquer ameaças e estar sempre prontas para a defesa da “Casa de Israel”. Em qualquer batalha, o que interessa é a vitória e a inviolabilidade do território judeu, a qualquer custo. As FDI estão de prontidão desde o dia 14 de maio de 1948, quando foi proclamada a Independência de Israel e, a partir daí, o Mundo Árabe voltou-se contra a “Entidade Sionista”, como eles definem o Estado Judeu. Algumas nações, como o Irã, e grupos fundamentalistas, como o Hamas e o Hezbollah, pregam abertamente a destruição total de Israel. Em outras palavras, querem “varrer Israel do mapa”. Entretanto, as FDI sempre souberam responder prontamente às ameaças, aos ataques e às invasões, mesmo quando em desvantagem relativa e momentânea.
Quanto ao setor industrial israelense, o empreendedorismo, a inovação, a pesquisa, o desenvolvimento de novas tecnologias e o estabelecimento de parcerias estratégicas, inclusive além das fronteiras nacionais, são estimulados em elevado grau, seja por parte do Governo de Israel, seja por parte de suas Forças Armadas. Como resultado, o país é a economia mais desenvolvida no seu entorno estratégico regional, o Oriente Médio, e uma das mais avançadas do planeta. Produtos israelenses são exportados para vários países ao redor do mundo, rendendo divisas fundamentais para o esforço econômico nacional. Israel domina tecnologias de ponta em vários setores, com destaque para: satélites, eletrônicos, robótica, armamento, radares, mísseis, foguetes e produtos de defesa em geral.
Dessa forma, é possível afirmar que a definição empregada pelo Gen Eisenhower, em 1961, está sendo perfeitamente aplicada por Israel, que elaborou e aplica uma concepção estratégica estatal unificada, envolvendo todas as Expressões do Poder Nacional, voltada para a sustentação do seu complexo industrial-militar, servindo de exemplo para outros países, como o Brasil, guardadas as devidas proporções e os níveis de ameaças existentes.
Além disso, segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), no caso do Brasil, para cada R$ 1,00 investido em programas de Defesa & Segurança é gerado um multiplicador de 9,8 em valor de PIB. Isso, por si só, constitui-se num grande incentivador para estimular o crescimento da economia do país.
A ótica da Guerra Fria e da ameaça nuclear foi substituída por uma nova ótica multipolar com ameaças difusas ou novos inimigos representados por organizações não-estatais, o fundamentalismo religioso e o terrorismo indiscriminado praticado por qualquer agente. Essa mudança não extinguiu a existência de ameaças aos interesses dos Estados, o que assegura a manutenção de seus Setores de Defesa & Segurança e, junto com eles, os seus complexos industriais-militares.
Por fim, é imperativo destacar que o desenvolvimento e a manutenção do complexo industrial-militar não é, em sua essência, um estímulo à guerra. Mas, sim, um estímulo à paz. É preciso ter em mente a lógica da dissuasão: para manter a paz, é preciso estar preparado para a guerra. A demonstração de força no preparo para a guerra é o que mantém a paz, pois desencoraja no outro qualquer intenção de aventura.

Notas
(1) A Guerra Fria foi a disputa de ordem política, econômica, social, tecnológica, militar e ideológica entre os Estados Unidos da América (EUA) e a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), compreendida entre o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) e a dissolução da União Soviética (1991). Disputas estratégicas por zonas de influência e conflitos indiretos entre as duas potências marcaram o período da bipolaridade mundial.
(2) O Oriente Médio é a região que está localizada na porção ocidental da Ásia, limitando-se ao norte com a Rússia, ao sul com o “chifre” da África, a leste com a Ásia Central e a oeste com o Mar Mediterrâneo. Como elo de ligação entre a Europa, a Ásia e a África, entre outros fatores, é uma região estratégica de relevância mundial.
(3) O Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) foi criado em 1987, como organização política e militar palestina. Seu programa político tem como pontos fundamentais: a instauração de um Estado Palestino abrangendo toda a Palestina Histórica e o não reconhecimento de Israel. Desenvolve ações terroristas contra o Estado Judeu, inclusive ataques com foguetes, a partir da Faixa de Gaza.
(4) O Movimento pela Libertação da Palestina (Fatah) é uma organização política e militar que foi criada em 1959. É a mais forte e mais organizada facção da ANP. No passado, desencadeou ações radicais como sequestros de aviões e ataques a judeus. Em 1972, nas Olimpíadas de Munique, sequestrou e matou onze atletas de Israel.
(5) O Partido de Deus (Hezbollah) é um grupo político e militar fundamentalista islâmico do ramo xiita, financiado por Síria e Irã. Seus líderes pregam a destruição de Israel, a criação de um Estado Islâmico no Líbano e a transformação de Jerusalém em cidade muçulmana. Criado em 1982, mantém sua base no sul do Líbano.
(6) A Jihad Islâmica da Palestina é um grupo militante palestino, considerado terrorista pelos EUA, União Europeia, Japão, Austrália e Israel. Prega a destruição do Estado Judeu e a constituição de um Estado Islâmico na Palestina. Já executou vários ataques terroristas, entre eles o atentado suicida do Dizengoff Center de 1996, em Tel Aviv, cuja responsabilidade também é reivindicada pelo Hamas.
(7) O Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS, na sigla em inglês), também conhecido como Daesh, é uma organização jihadista que atua no Oriente Médio. Em 29 de junho de 2014 proclamou a existência de um califado, tendo Abu Bakr al-Baghdadi como califa. O ISIS afirma autoridade religiosa sobre todos os muçulmanos do mundo e aspira tomar o controle de muitas regiões, entre elas a região do Levante, que inclui Jordânia, Israel, Palestina, Líbano, Chipre e o sul da Turquia.
(8) Spin-off é um termo em inglês utilizado para descrever uma nova empresa que nasceu a partir de um grupo de pesquisa empresarial, universidade ou centro de pesquisa público ou privado, normalmente com o objetivo de explorar um novo produto ou serviço de alta tecnologia.
(9) Os drusos são uma dissidência dos muçulmanos. Formam uma comunidade religiosa fechada que vive espalhada no Líbano, Israel, Síria, Turquia e Jordânia. Não são considerados muçulmanos pela maioria dos seguidores do Islamismo no Oriente Médio. Falam árabe e preferem viver nas montanhas. Em Israel, representam quase 2% da população.
(10) O Programa Ofeq tem como escopo o desenvolvimento serial de satélites de reconhecimento. Esses satélites são lançados por lançadores de foguetes Shavit, a partir da Base Aérea de Palmachim em Israel, na costa do Mediterrâneo. São de órbita baixa e demoram cerca de 90 minutos para dar uma volta em torno da Terra. Tanto os satélites quanto os lançadores são projetados e fabricados pela empresa Israel Aerospace Industries (IAI).
(11) O KC-390, em fase de desenvolvimento pela Embraer Defesa & Segurança, é uma aeronave para transporte tático e logístico e reabastecimento em voo. O modelo estabelecerá um novo padrão para o transporte militar médio, visando atender os requisitos operacionais da Força Aérea Brasileira (FAB), em substituição ao C-130 Hercules. Será o maior avião já produzido na América Latina.
(12) O Gripen NG (New Generation), fabricado pela empresa sueca SAAB, será a nova aeronave de caça da Força Aérea Brasileira (FAB). O Brasil adquiriu, da Suécia, trinta e seis caças Gripen NG.
(13) O Projeto FX-2 prevê o reequipamento e a modernização da frota de aeronaves militares supersônicas da FAB. Foi criado em 2006, em substituição ao programa anterior, o Projeto FX. Venceu a concorrência do Projeto FX-2 o caça sueco Gripen NG, da empresa SAAB.
(14) O Projeto Estratégico do Exército Guarani prevê a substituição dos antigos Urutu e Cascavel por uma nova família de blindados, fabricados em Sete Lagoas-MG pela Iveco Defesa & Segurança. O projeto prevê a aquisição de 2.044 unidades da Série Guarani no prazo de 20 anos.

Referências:

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sábado, 9 de janeiro de 2016

O poder de delegar

Donna M. Genett
17 Jul 2013

Invista em delegar tarefas
  • Defina e descreva claramente cada tarefa.
  • Seja específico.
  • Peça que o subordinado repita a tarefa para você, a fim de assegurar que o que é esperado tenha sido compreendido em sua totalidade.
  • Prepare-se com antecedência.
  • Defina claramente o prazo no qual a tarefa deve ser concluída.
  • Defina o nível de autonomia do funcionário ao delegar a tarefa:
    • Nível 1: autonomia para recomendar, permitindo ao funcionário pesquisar planos de ação e propor a melhor alternativa. Atribuir este grau de autonomia quando precisar de informações antes de tomar uma decisão.
    • Nível 2: autonomia para informar sobre a ação e colocá-la em prática, permitindo ao funcionário pesquisar e escolher o melhor caminho; reportar o porquê da escolha e começar a agir. Atribuir este grau de autonomia quando quiser que possíveis planos de ação sejam previamente informados para que problemas potenciais possam ser prevenidos.
    • Nível 3: autonomia para agir, conferindo ao funcionário autonomia plena para agir com respeito à tarefa ou ao projeto. Atribuir este grau de autonomia quando confiar nas aptidões de alguém ou a tarefa envolver riscos mínimos.
  • Mantenha reuniões de verificação para saber o que está acontecendo e oferecer orientação, se necessário (marque-as logo e com frequência, em princípio; depois aumente os intervalos).
  • Conclua o processo com uma recapitulação das etapas do trabalho para discutir o que deu certo, o que poderia ser aprimorado e o que foi aprendido (resultados desejados para o projeto; tempo de conclusão; grau de autonomia; pontos de verificação).

Benefícios de delegar com eficácia
  • Permite ganhar tempo!
  • Permite focar no que é mais importante!
  • Permite que o pessoal cresça em capacidade e confiança!
  • Permite o desenvolvimento, o treinamento e a orientação do pessoal!
  • Cria oportunidades de reconhecimento!
  • Permite fazer um levantamento dos baixos desempenhos!
  • Assegura resultados positivos!

Seis passos para delegar com eficácia
  • Prepare-se previamente.
  • Defina claramente a tarefa a ser realizada. Seja específico. Peça a pessoa a quem está delegando para repetir as informações para você, a fim de assegurar que ela compreendeu tudo.
  • Estabeleça claramente o prazo de execução da tarefa.
  • Defina o grau de autonomia que deve ser atribuído a quem realizará a tarefa:
    • Nível 1: autonomia para recomendar.
    • Nível 2: autonomia para informar sobre a ação e colocá-la em prática.
    • Nível 3: autonomia para agir.
  • Determine pontos de verificação quando for se reunir com as pessoas a quem as tarefas foram delegadas, para acompanhar o progresso do trabalho e, se preciso, oferecer orientação ao funcionário. Planeje-os inicialmente com freqüência e torne-os mais espacejados ao notar que a tarefa está sendo executada sem problemas.
  • Faça com o colaborador uma recapitulação completa do trabalho para discutir o que transcorreu bem, o que pode ser aprimorado e o que foi aprendido.

Referência:

Genett, Donna M. O poder de delegar. Tradução de Alexandre Tuche. 6. Ed. Rio de Janeiro: Bestseller, 2008.


O Sermão da Montanha

Jesus Cristo, segundo o Evangelho de Mateus Mateus 5 1 Vendo as multidões, Jesus subiu ao monte e se assentou. Seus discípulos aproxi...