Este artigo foi elaborado como requisito da Disciplina Geopolítica do Curso de Comando e Estado Maior da Escola de Comando e Estado Maior do Exército (ECEME), tendo como objetivo analisar qual a concepção estratégica do Estado de Israel no que se refere ao tripé que sustenta o seu complexo industrial-militar.
Carlos Evando
dos Santos
30 Out 2015
O General (Gen)
Dwight David Eisenhower, no seu discurso de despedida da Presidência dos Estados
Unidos da América (EUA), pronunciado em 17 de janeiro de 1961 e transmitido em
cadeia de rádio e televisão, expôs as tensões políticas, econômicas e militares
ligadas ao complexo industrial-militar que, segundo ele, se reforçou
consideravelmente após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A expressão foi
utilizada, então, pela primeira vez para definir o sistema e a interação que
envolve o Governo de um país, suas Forças Armadas e a sua Indústria de Defesa
& Segurança.
O complexo industrial-militar, bem
explorado por Fred J. Cook em sua obra O
Estado Militarista (Civilização Brasileira, 1966, 342 páginas) compreende o governo de um país, suas
Forças Armadas e sua base industrial, particularmente a vertente voltada para o
Setor de Defesa & Segurança. Entretanto, o que caracteriza e que “dá vida”, de fato,
ao complexo industrial-militar é a interação existente entre os três elementos
constitutivos do tripé citado pelo Gen Eisenhower e o alinhamento com os
objetivos políticos (“o que fazer”) e com a estratégia traçada (“como fazer”)
para o atingimento de tais objetivos.
Para
Eisenhower, o estímulo ao amplo conjunto de forças integrantes do complexo
industrial-militar pode constituir um grande “perigo” para a sociedade, embora,
em raciocínio lógico, defendesse o complexo como vital para a defesa e a
segurança do país. Certa feita, o experiente Comandante Supremo das Forças
Aliadas no Teatro de Operações Europeu durante a fase final da Segunda Guerra Mundial
recomendou cautela no desenvolvimento e na manutenção de tal complexo, a fim de
não chegar ao ponto de o país possuir um poderio militar demasiado grande, o
qual pode vir a se tornar influente demais ou, em outras palavras, ganhar “vida
própria”.
O Gen Eisenhower
chamou a atenção para a mudança da natureza do sistema norte-americano de
defesa desde a Segunda Guerra Mundial. Segundo ele, os EUA não poderiam mais
“se permitir ao luxo de uma improvisação de emergência”, que caracterizou a
preparação do país para a guerra contra o Eixo. Em vez disso, o país estava
“compelido a criar uma indústria permanente de armamentos” e a “montar uma
enorme força militar”. Admitiu também
que a Guerra Fria (1) deixava clara a “imperativa necessidade de seu
desenvolvimento”, mas se mostrou enormemente preocupado sobre a “injustificada
influência que o complexo industrial-militar estava crescentemente
conquistando". Em especial, alertou a nação contra a possibilidade de essa
política pública tornar-se prisioneira de uma elite científico-tecnológica.
A partir dessa abordagem inicial, seguiremos com a análise dos
componentes do tripé do complexo industrial-militar israelense: o Governo, as
Forças de Defesa de Israel (FDI) e sua Indústria de Defesa & Segurança, a
fim de identificar qual é a concepção
estratégica do Estado Judeu nesse sentido.
O
Estado de Israel
Israel é uma república democrática e parlamentarista. O país está dividido em seis distritos,
subdivididos em municipalidades. Não há constituição escrita. O Chefe de Estado é o
Presidente da República, que exerce as funções de representações oficiais e, no
caso de Israel, funções simbólicas
ligadas ao Judaísmo. O Chefe de Governo e do Gabinete é o Primeiro-Ministro, normalmente
o líder do maior partido no Parlamento.
Os principais partidos políticos são: Beytenu, Hatnua, Lar Judaico, Likud, Kadima,
Trabalhista e Yesh Atid (em ordem alfabética). O Congresso Israelense, o Knesset, é unicameral e possui cento e
vinte membros que representam proporcionalmente as legendas partidárias do país
(ABRIL, 2015).
Israel possui uma
área territorial de apenas 20.918 km2, menor, portanto, que Sergipe,
o menor estado brasileiro, que possui 21.915 km2. Tem como limites o
Líbano ao norte, o Egito ao sul, o Mar Mediterrâneo a oeste e a Jordânia a
leste. Com uma população de 7,8 milhões de habitantes, menor do que a da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro, as principais cidades israelenses são:
Jerusalém (815.300), Tel Aviv (414.600), Haifa (272.200) e Rishon Leziyyon
(235.100). A densidade demográfica é de quase 373 hab/km2 (a do
Brasil é de apenas 24 hab/km2). A expectativa de vida é de 81 anos. A
população é composta de 41% de israelenses nativos, 40% de europeus, africanos,
americanos e médio-orientais e 19% de árabes. Os idiomas falados são o
hebraico, o inglês e o árabe. A taxa
de analfabetismo é virtualmente nula. Aproximadamente
73% da população segue a religião judaica, enquanto que 20% são islâmicos, 5%
agnósticos ou ateus e 4% declaram outras religiões (ABRIL, 2015).
O Estado de Israel é marcado por uma
cultura que, eminentemente, valoriza a coletividade mais do que a
individualidade (BUTLER, 2011), o que constitui um traço marcante que
caracteriza a civilização judaica, cujas principais fontes de consulta estão
inseridas nos Livros do Antigo Testamento da Bíblia Sagrada.
De acordo com o Programa de
Desenvolvimento das Nações Unidas (PNUD), Israel teve, em 2012, um índice de
desenvolvimento humano (IDH) de 0.900, o 16º maior do mundo, o que contribui
com a alta expectativa de vida (81 anos), a educação e a renda no país, fatores
que sempre tiveram grande influência na taxa de empreendedorismo (UNITED
NATIONS DEVELOPMENT PROGRAMME, 2013).
No tocante à economia, segundo dados de
2015 do Fundo Monetário Internacional (FMI), o Produto Interno Bruto (PIB) de
Israel alcançou a cifra de US$ 305 bilhões no ano de 2014, configurando-se na 37ª
maior economia do mundo. A renda per capita israelense é de US$ 31.985,
ocupando a 28ª posição no ranking mundial.
Nascido, oficialmente, no dia 14 de maio
de 1948, o Estado de Israel é o protagonista da maioria dos conflitos no
Oriente Médio (2). Sua fundação provocou uma das mais complexas disputas
territoriais da atualidade, envolvendo israelenses e árabes-palestinos, que
habitam a Região da Palestina Histórica há séculos e exigem permanecer naquelas
terras.
O maior símbolo da situação em que vive
o país é o status de Jerusalém,
cidade sagrada para três religiões: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. A
cidade encontra-se, atualmente, sob o controle quase que absoluto de Israel,
incluindo Jerusalém Oriental (Cidade Velha), paradoxalmente, onde ficam locais
sagrados do Islamismo.
É possível afirmar que Israel é uma “ilha”
cercada de inimigos, a partir da constatação de que mantém permanentes tensões
com os palestinos [Autoridade Nacional Palestina (ANP) e os grupos
fundamentalistas Hamas (3) e Fatah (4)], com o Irã (por conta do programa nuclear
iraniano, do financiamento ao Hezbollah (5), da aliança persa com a Síria e do
objetivo permanente de Teerã de destruir o Estado de Israel), com a Turquia (um
incidente diplomático em 2010, depois do apoio turco ao Hamas na Faixa de Gaza,
gerou tensões entre os dois países), com a Síria (por conta das Colinas de Golã,
ocupadas por Israel desde a Guerra dos Seis Dias em 1967) e com o Líbano (que
abriga o grupo extremista Hezbollah, estabelecido no sul libanês, na fronteira norte
israelense).
Os Objetivos Nacionais de Israel são os seguintes: 1)
garantir a existência do Estado de Israel, proteger sua integridade territorial
e os seus cidadãos; 2) defender os valores do Estado de Israel e seu caráter
como “lar judaico” e democrático para o povo judeu; 3) manter a resiliência
social e econômica; e 4) reforçar o estatuto nacional e regional de Israel e se
esforçar para manter a paz com os seus vizinhos (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
As transformações
ocorridas no ambiente estratégico internacional e regional nos últimos anos
produziram mudanças na natureza e na força das ameaças à existência do Estado
de Israel. As ameaças convencionais diminuíram consideravelmente, enquanto que
as não convencionais aumentaram [organizações terroristas, forças subterrâneas,
armas de trajetória alta (foguetes e mísseis), guerra no ciberespaço etc].
As ameaças atualmente identificadas, mapeadas,
monitoradas e enfrentadas pelo Estado de Israel são: o Irã (mais distante), o
Líbano (nas proximidades), a Síria (atualmente um estado falido e em
desintegração); as organizações não-estatais (Hezbollah e Hamas); e as organizações
terroristas sem ligações a qualquer estado ou comunidade particular [Jihad
Islâmica da Palestina (6), Estado Islâmico (ISIS) (7) e outros] (ISRAEL, IDF
STRATEGY, 2015).
Para enfrentar
essas ameaças, o Estado de Israel definiu sua abordagem de Defesa & Segurança
baseada nos seguintes fatores: poder de dissuasão, alerta precoce, defesa e
decisão (ou ação) rápida. Além disso, percebeu-se a necessidade de aumentar as
capacidades das FDI, as quais devem estar preparadas para ataques simultâneos
em várias frentes (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
Em estado de prontidão desde sua criação em 1948, o
Estado de Israel confere um grande espaço às suas forças militares no cenário
nacional. A influência militar excede a questão da Segurança Nacional e penetra
nos campos político, econômico e científico. Tudo que se refere à vida
cotidiana (distribuição de água, eletricidade, combustível, utilização de
potencial humano, comunicação, transportes terrestres, aéreos e marítimos,
assim como todos os serviços de um país desenvolvido) é planejado em estreita
coordenação e interação com os responsáveis pela Defesa & Segurança
Nacional, a fim de preparar constantemente o país para um eventual estado de emergência
ou de guerra.
Uma
industrialização forte voltada para a Defesa resulta em uma macroeconomia capaz
de se aproveitar de spin-offs (8),
criando inovações que beneficiam todos os setores da economia (BROUDE, 2013).
Da análise realizada, é possível afirmar que Israel
é um Estado forte, embora democrático, desenvolvido econômica e socialmente,
baseado no direito consuetudinário e fortemente influenciado pelo Judaísmo, a
primeira religião monoteísta da História, fundada por Abraão, o grande patriarca
dos hebreus, antepassados dos judeus. Com um território minúsculo, é a 37ª
maior economia do mundo, apesar de contar com terras áridas e desérticas e com
restrições de recursos naturais, como a água. Desde sua fundação em 1948,
Israel luta por sua sobrevivência como Estado, haja vista a existência de
grupos fundamentalistas e Estados nacionais que pregam a sua destruição, como o
Hamas, o Hezbollah e o Irã. Em função disso, o poder nacional israelense
trabalha com uma Estratégia de Defesa & Segurança unificada, sob os pontos
de vista político, econômico, militar, psicossocial e científico-tecnológico, fortemente
influenciada pelo poder militar e promotora do complexo industrial-militar
israelense, o qual gera divisas importantes para o país.
As
Forças Armadas Israelenses
As Forças Armadas Israelenses,
denominadas Forças de Defesa de Israel (FDI ou IDF na sigla em inglês), são constituídas
por Exército (efetivo de 133.000 militares), Marinha (9.500) e Força Aérea
(34.000), totalizando 176.500 homens e mulheres. Os gastos com a Defesa no ano
de 2013 atingiram a cifra de US$ 15,2 bilhões, representando cerca de 5% do PIB
nacional israelense, que naquele ano foi de US$ 291 bilhões (ABRIL, 2015).
O poder de dissuasão de Israel, que conta com a vantagem
relativa das FDI em relação às ameaças levantadas, ainda existe, mas é menor em
comparação com o passado, até mesmo porque as ameaças mudaram. A concepção
atual prevê que a dissuasão deve ser específica e adaptada a cada ameaça ou
inimigo (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
As
FDI surgiram, principalmente, a partir das milícias Haganá, Gangue Stern e
Irgun que, no início da Guerra de Independência de Israel (1948-1949),
contavam com cerca de trinta mil homens. Desde então, os soldados israelenses
destacam-se como combatentes muito bem treinados e motivados. Os efetivos da Haganá
triplicaram até o final daqueles embates, chegando a contar com noventa e
quatro mil homens no fim de 1948 (MAGNOLI, 2011). Desde então, é possível
constatar a elevada capacidade de mobilização de Israel, além de seus soldados
disporem de elevado moral; não sendo exagerado afirmar que seus combatentes
lutaram (e lutam até hoje) com a consciência de que estão guerreando pela terra
que Deus prometeu a Abraão, a Isaque e a Jacó, os grandes patriarcas do povo
judeu.
O poderoso arsenal de guerra de Israel,
segundo alguns especialistas, conta na atualidade, inclusive, com armas
nucleares, negadas pelos israelenses e jamais confirmadas, pois o Estado Judeu
não aceita inspeções internacionais em seu território por parte da Agência
Internacional de Energia Atômica (AIEA) (ABRIL, 2015).
A maioria dos israelenses são convocados para o serviço militar obrigatório aos dezoito anos de idade. Homens devem
servir por três anos e as mulheres por dois. Na sequência do serviço
obrigatório, os homens israelenses juntam-se à Força Militar de Reserva por várias semanas a cada ano até completar
quarenta anos de idade. A maioria das mulheres estão isentas do serviço de
reserva. Os árabes israelenses, com
exceção dos drusos (9), e aqueles que
exercem estudos religiosos em tempo integral estão isentos do serviço militar.
A missão fundamental das FDI é garantir a integridade
territorial e a soberania do Estado de Israel e a segurança de seus cidadãos. Em
estreito relacionamento com o escalão político, está voltada para a promoção da
Política de Segurança Nacional e a garantia dos interesses nacionais vitais do
Estado. Em ordem de prioridade, as FDI devem: impedir que o inimigo atinja
ganhos territoriais no final dos conflitos; combater o terrorismo e os ataques
nas fronteiras; defender a “Casa de Israel” contra foguetes e mísseis; e prover
a defesa do ar, do mar e do ciberespaço israelenses (ISRAEL, IDF STRATEGY,
2015).
No âmbito das FDI, há uma perfeita compreensão de que as forças militares são a garantia nacional da existência do
Estado de Israel. Portanto, devem estar em condições de prontidão para fornecer
a segurança do Estado Judeu em qualquer situação, utilizando para isso capacidades
fundamentais dos seus comandantes e tropas: espírito de luta, iniciativa, qualidade
da ação e desempenho completo e intransigente das missões recebidas (ISRAEL,
IDF STRATEGY, 2015).
Israel possui um dos poderes militares mais formidáveis e
sofisticados do mundo. Com equipamentos de última geração, o Estado Judeu conta
com o inestimável apoio dos EUA, por intermédio do Financiamento Militar
Estrangeiro (FME). Há uma previsão de que Israel receba, no espaço temporal de
2009 a 2018, um total de US$ 30 bilhões em ajuda militar de Washington. Segundo
o Congresso norte-americano, Israel é o maior receptor do FME, pois somente em
2015 receberá 55% do desembolso total dos subsídios. Essa quantia representa
entre 23% e 25% do orçamento militar anual israelense (DEEN, 2015).
As FDI dependem de sistemas de armas de alta tecnologia concebidos e fabricados em Israel, combinados
com elevadas importações de produtos de defesa. Os maiores fornecedores de
armas estrangeiros para as FDI são: EUA, Alemanha, Reino Unido, França, Itália,
Coreia do Sul, Bélgica, Espanha, República Checa, Turquia, Canadá, Hungria,
Suécia e Áustria. O míssil Arrow,
desenvolvido em parceria com os norte-americanos (IAI-Boeing), é um dos únicos
sistemas de mísseis antibalísticos em operação no mundo. Desde a Guerra do Yom Kippur (1973), Israel tem desenvolvido uma rede de satélites de reconhecimento. O sucesso do Programa Ofeq (10) fez de Israel um
dos nove países capazes de projetar, fabricar e lançar satélites
desse tipo, de forma independente. O país também desenvolveu o seu
próprio carro de combate, o Merkava, um dos melhores blindados do mundo
(WIKIPEDIA, 2015).
A
construção de força das FDI está sujeita às tensões entre a segurança necessária, às
limitações de recursos financeiros e às velocidades de reforço e de mudanças no
ambiente estratégico e operacional. As FDI operam sob restrição permanente de recursos (a
exemplo da maioria dos países), que é agravada nos estados de emergência e de
guerra. Lidar com essa limitação provoca uma série de medidas práticas a adotar
permanentemente, tais como: utilização máxima dos recursos do Plano Estatal Plurianual,
manutenção de uma base de colaboração inter-organizacional e inter-países no
desenvolvimento de produtos de defesa com o maior número possível de
possibilidades (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
A Concepção Estratégica das FDI basea-se nos interesses vitais
israelenses, a partir dos pressupostos básicos da Defesa & Segurança Nacional
e os princípios gerais do pensamento militar israelense. Sabiamente, integra as
bases da Segurança Nacional com os princípios e regras das doutrinas militares,
evidenciando o forte relacionamento existente entre o setor político e o setor
militar do país.
Nesse contexto, o planejamento das FDI para a condução
das situações de conflito, qualquer que seja a ameaça, baseia-se no conceito de
comando multidisciplinar (político, econômico, militar, jurídico e social), o
que caracteriza uma lógica estratégica unificada.
Seguindo a concepção de Defesa & Segurança adotada pelo
Estado de Israel, as FDI estabeleceram como princípios fundamentais: 1)
resiliência na defensiva para garantir a existência de Israel, manter um poder
de dissuasão eficaz, neutralizar ameaças quando necessário e evitar confrontos;
2) ofensiva, quando necessário, para alcançar resultados militares claros e
decisivos, atingir os objetivos políticos em conformidade com o direito
internacional e salvaguardar a legitimidade de Israel; 3) cooperação
estratégica, reforçando as relações com os EUA, desenvolvendo relações
estratégicas com outras nações-chave e estabelecendo e/ou reforçando áreas de
apoio em todo o mundo; 4) melhoria das relações israelenses no âmbito regional,
reforçando os acordos de paz e maximizando o potencial de cooperação com
entidades moderadas na região; e 5) manutenção da vantagem relativa com base na
qualidade humana, nos meios tecnológicos avançados e na inteligência (ISRAEL,
IDF STRATEGY, 2015).
Na caracterização do ambiente opreacional no qual as FDI
podem estar envolvidas, a Estratégia das FDI prevê: 1) declínio das ameaças
militares estatais regulares e um aumento nas ameaças de organizações
não-estatais e irregulares ou semi-regulares apoiadas pelo Irã; 2) aumento das
ameaças à população civil e a tentativa de infligir uma ameaça estratégica
contra manchas nacionais fracas e a economia do Estado; 3) infiltração do
inimigo em áreas civis habitadas, a fim de aumentar os danos colaterais entre os
não-combatentes e de prejudicar a liberdade de ação das FDI; 4) exploração por
parte do inimigo de capacidades de combate destinadas a impedir e perturbar os
esforços das FDI em terra, no ar e no mar, para compensar as suas vantagens
tecnológicas, maximizar o número de vítimas civis e militares e para
intensificar a pressão estratégica contra Israel; e 5) abordagem
multi-dimensional durante o conflito e entre eles, incluindo a guerra
cibernética, com esforços para sensibilização do público nacional e estrangeiro,
atividades terroristas em Israel e no exterior e seqüestro de civis e de soldados
como moeda de barganha (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
A variedade de operações para as quais as FDI devem estar
preparadas deve abarcar três situações funcionais: rotina, emergência e guerra
(REW, na sigla em inglês). A situação funcional será definida pelo Chefe do Estado-Maior Geral das FDI. Em
qualquer uma delas é fundamental a manutenção do diálogo com o escalão político
para a definição da situação política e tomada de decisões a fim de
arregimentar os recursos estatais necessários (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
As diretrizes básicas para o preparo e emprego das FDI são:
evitar os confrontos e dissuadir o inimigo; alerta e inteligência; defesa (impedir
qualquer ganho territorial ao final de um conflito); proteção nas quatro
dimensões (terra, mar, ar e cibernética); usar a superioridade militar para alcançar
os objetivos políticos e melhorar a situação estratégica de Israel; manter a
continuidade dos esforços econômicos e de combate; e derrotar o inimigo em cada
encontro (ISRAEL, IDF STRATEGY, 2015).
A partir da análise da concepção estratégica, da
composição, dos gastos militares e da forma como as Forças de Defesa de Israel (FDI) se preparam para a execução
da defesa da “Casa de Israel” e da manutenção da segurança de seus cidadãos, é
possível concluir que o Estado Judeu é, sem dúvidas, uma fortaleza militar.
Entretanto, sua superioridade bélica não é capaz de garantir a segurança total
de seus cidadãos nem a imposição da paz na região do Oriente Médio. Por isso, Israel
considera a necessidade de estar permanentemente preparado para qualquer uma
das três situações funcionais possíveis: rotina, emergência e guerra (REW). A
Estratégia das FDI está calcada numa lógica unificada envolvendo todas as
expressões do Poder Nacional e na construção de força para dissuadir qualquer
ameaça ao Estado de Israel, seja ela estatal ou não-estatal. Para isso, as FDI
contam com um capital humano altamente motivado e preparado, a prontidão, a
elevada capacidade de mobilização nacional, a Força Militar de Reserva, os
recursos nacionais e os oriundos de financiamento externo, notadamente dos EUA,
e com tecnologias militares de ponta, nacionais e importadas.
A
Indústria de Defesa & Segurança Israelense
Israel
foi o país que mais cresceu em matéria de empreendedorismo nos últimos anos. Em
seus quase setenta anos de existência, a nação se tornou uma potência em
matéria de inovação e tecnologia, em grande parte devido aos altos
investimentos nacionais e estrangeiros (APSAN, 2014).
Com ajuda financeira e militar dos EUA e
de judeus residentes em outros países, Israel tornou-se a economia mais
desenvolvida do Oriente Médio (ABRIL, 2015). O país pratica técnicas modernas
de agricultura em terras áridas e conta com indústrias de ponta. Na pauta de exportações
israelenses estão manufaturados básicos, máquinas e equipamentos de transporte,
substâncias químicas e derivados, combustíveis minerais, lubrificantes e produtos
de defesa. As principais importações são:
máquinas e equipamentos de transporte, combustíveis minerais e lubrificantes, manufaturados
básicos, substâncias químicas e produtos de defesa. Os principais parceiros comerciais de Israel são: EUA,
Hong Kong, Reino Unido, Bélgica, China, Alemanha, Suíça e Bélgica (ABRIL,
2015).
No ramo da Indústria de Defesa &
Segurança, ambiente notadamente criativo e dinâmico, empresas israelenses têm
se destacado em tecnologias de ponta e no estabelecimento de parcerias
estratégicas ao redor do mundo, o que lhes permite participar do
desenvolvimento e da fabricação de diversificados e sofisticados produtos de
defesa, o que garante a Israel figurar entre os países que estão na dianteira
mundial nessa área, juntamente com os EUA, Rússia, Alemanha, Reino Unido, França
e Suécia, entre outros.
A interação entre os poderes político, econômico e
militar com a Indústria de Defesa & Segurança de Israel é permanente e intensa.
As armas, a tecnologia militar e o conhecimento são valorizados porque fazem
parte do arcabouço de defesa de Israel, o que garante não somente a sua
existência como Estado, mas também a segurança do povo judeu. As armas são
testadas no campo, nas guerras e nos conflitos contra os palestinos e quaisquer
outras ameaças, como os grupos fundamentalistas Hamas e Hezbollah.
Sobre a influência da Indústria de
Defesa & Segurança, é possível afirmar, em países que a mantém em elevado grau de
desenvolvimento, como os EUA por exemplo, a expressiva presença de empresas do
setor entre os financiadores de campanha eleitorais e a ampla abrangência dos
partidos receptores desses recursos, sejam eles da base governista ou dos
grupos de oposição.
FELDMAN (2013) afirma que o Ministério da Defesa de Israel desempenha um papel duplo como a
autoridade que acompanha o sistema militar e como promotor de vendas para a
indústria militar no estrangeiro. O Exército Israelense estimula a
atividade industrial militar no país, por meio da qual se busca a independência
em relação a países estrangeiros para evitar riscos de embargos, como ocorreu
na Guerra dos Seis Dias em 1967, quando a França interrompeu o fornecimento de
armas a Israel.
Além disso, o Exército Israelense está presente também
na indústria farmacêutica, de alimentação, de embalagens, entre outras, e
desempenha um papel primordial na pesquisa científica. Oficiais da Reserva
ocupam postos importantes em todos os setores. Muitos deles se tornam diretores
de empresas governamentais ou privadas, são eleitos prefeitos ou membros do
Parlamento (Knesset), nomeados
ministros ou professores em universidades (KAPELIOUK, 2015).
Apesar da diminuição da venda de armas no âmbito
mundial em 2014, a produção militar israelense tem progredido. O fluxo
comercial bélico assegura divisas mais vultuosas para Israel do que as geradas pelos
cítricos ou pelo diamante, que constam como itens importantes da economia
israelense. Israel é, hoje, um dos grandes exportadores mundiais de produtos de
defesa. A indústria aeroespacial tornou-se o setor que mais emprega no país,
com aproximadamente vinte mil assalariados.
Israel
é responsável por 2% das armas exportadas no mundo e já foi acusado de não
divulgar todos os seus acordos. Os principais destinos de armas israelenses são
a Índia (33%) e Turquia (13%). Os principais produtos exportados são armas
leves (fuzis, pistolas e metralhadoras), mísseis e foguetes, sistemas de
vigilância, de comando e controle e aeronaves não tripuladas. O setor
militar israelense exportou US$ 7 bilhões em produtos de defesa nos últimos
anos, o equivalente a cerca de 85% de suas vendas (FREDERICO, 2015).
A Elbit Systems é uma das maiores empresas
militares israelenses e uma das maiores fabricantes de drones, armas e outras tecnologias
que constituem parte fundamental do aparelho militar de Israel. A companhia,
que inclui a Elbit Systems e suas subsidiárias, atua no desenvolvimento de
sistemas para aeronaves de
asas fixas, aeronaves de asas rotativas, aeronaves remotamente pilotadas,
segurança pública, blindados, comunicações, tropas a pé, optrônicos, suporte
logístico, espaciais e simuladores. São exemplos de
produtos da Elbit Systems as aeronaves remotamente pilotadas Hermes 90,
Hermes 450, Hermes 900, Elbit Skylark, Silver Arrow Micro-V e Silver Arrow
Snipe. Por meio de sua subsidiária AEL Sistemas, a Elbit estabeleceu uma
parceria estratégica que dura até os de hoje com a Empresa Brasileira de
Aeronáutica (EMBRAER), a fim de modernizar os caças F-5 da Força Aérea Brasileira (FAB). Subsequente
ao contrato de modernização dos F-5 da FAB, em 2012 foi firmado um contrato
semelhante para modernização dos caças brasileiros AMX, de origem italiana. Atualmente,
a AEL Sistemas está tendo participação relevante no desenvolvimento da aeronave
KC-390 (11), que será a espinha dorsal da logística aérea das Forças Armadas
Brasileiras nas próximas décadas. Também existem negociações para repetir essa
parceria no desenvolvimento da participação brasileira no desenvolvimento e na
fabricação do caça sueco Gripen NG (12), do Projeto FX-2 (13) da FAB, recém
adquirido pelo governo brasileiro junto à empresa sueca SAAB. Além da atuação
israelense nos projetos de aeronaves, a AEL Sistemas atua também no ramo de
satélites, sensores, comunicação e simuladores. A AEL fornecerá as torres
automatizadas para o blindado brasileiro Guarani (14), fabricado pela Iveco
Segurança & Defesa, cuja encomenda prevista é de dois mil e quarenta e
quatro unidades para os próximos vinte anos (ELBIT SYSTEMS, 2015).
Em 2013, a empresa israelense Global Shield forneceu
oito veículos blindados (popularmente conhecidos como “caveirões”) ao Batalhão
de Operações Especiais (BOPE) da Polícia Militar e à Coordenadoria de Recursos
Especiais (CORE) da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. Esses veículos
foram fornecidos com preços abaixo dos praticados no mercado (cerca de 70%) sob
a justificativa de que a cidade funcionaria, por causa dos Grandes Eventos
(Copa das Confederações FIFA 2013, Copa do Mundo FIFA 2014 e Jogos Olímpicos
2016), como estande de exposição (show
room) de produtos israelenses de Defesa & Segurança para o mundo. Além
da venda, a Global Shield ofertou a gestão da frota e a manutenção por cinco
anos. A parceria estratégica Brasil-Israel no campo armamentista não está em
desarmonia com o que acontece no mundo todo. Na verdade, faz parte de um
conjunto mais amplo de fusões, aquisições e formação de uma imensa massa de
capital aplicado na pesquisa, produção e consumo de produtos de defesa (GLOBAL
SHIELD, 2015).
A Israel Weapon Industries (IWI) é uma
empresa israelense fabricante de armas de fogo, munições e tecnologia militar
para as FDI. A metralhadora Uzi é uma
das mais populares do mundo, por conta de sua natureza compacta e de sua confiabilidade.
Destacam-se ainda, como produtos da IWI, a metralhadora Negev, a pistola semiautomática Jericho
941 e o fuzil de combate Tavor. A
IWI fabrica também munições para armas de fogo, artilharia, carros de combate e
mísseis ar-terra. São modelos da IWI: fuzis de combate Galil e Tavor, metralhadoras
Negev e Uzi, pistolas Jericho 941
e Desert Eagle, revólver SP-21 Barak, mísseis e foguetes MAPATS ATGM, Delilah, IWI 120 mm e LAR-160. O carro de
combate Merkava, de fabricação
israelense por intermédio da IWI, é um dos blindados mais modernos do mundo.
Entrou em operação em 1979 e, atualmente, está na sua quarta versão, o Merkava MK-IV. Dotado de canhão de 120
mm com alcance de 5,5 km e metralhadora de 12,7 mm Browning M2, o Merkava MK-IV
tem alcance operativo de 500 km, podendo atingir uma velocidade de 65 km/h (ISRAEL WEAPON INDUSTRIES, 2015).
A Hagor Industries, fundada em 1952, é uma empresa israelense experiente na produção de equipamentos militares. Seu portfólio inclui produtos
de alta qualidade de proteção individual, coletes à prova de balas, além de sacos de dormir, kit de bolsas, camas de campanha, barracas militares, veículos
e sistemas diversos. Essa empresa detém um contrato com a Marinha do Brasil
para fornecimento de
materiais como placas e coletes balísticos (HAGOR INDUSTRIES, 2015).
A Israel
Aerospace Industries (IAI) é a maior empresa de defesa aeroespacial sob
controle do Governo de Israel. É um centro de excelência na área tecnológica
que mantém um extenso campo de desenvolvimento e pesquisa nos diversos campos
da engenharia. É a maior empregadora de engenheiros israelenses. Seu portfólio
de produtos abarca: satélites e sistemas espaciais, sistemas de defesa,
mísseis, aeronaves de alerta precoce, sistemas aéreos não tripulados, radar e
inteligência eletrônica, conversões de aeronaves, sistemas estratégicos de
comando e controle, soluções cibernéticas e robótica. A IAI desenvolveu e fabricou
de maneira independente pelo menos treze satélites comerciais, de pesquisas e
de espionagem. A maioria foi lançada à órbita terrestre a partir da base da
Força Aérea Israelense de Palmachim, na costa mediterrânea, ao sul de Tel Aviv, por veículos lançadores de satélites Shavit.
Alguns dos satélites de Israel classificam-se entre os sistemas espaciais mais
avançados do mundo, como o satélite de espionagem Ofeq 9, equipado com câmera de alta
resolução, lançado em 2010 a partir da base de Palmachim (ISRAEL
AEROSPACE INDUSTRIES, 2015).
A Rafael
Advanced Defense Systems conquistou posição de liderança como colaboradora e
fabricante qualificada de sistemas avançados de armas no mercado de defesa aérea.
A empresa tem apresentado um portfólio de produtos como o RAD-SOS, o Domo de Ferro (Iron
Dome, em inglês), o David’s Sling,
o Spyder e o Barak I, sendo que todos os sistemas permitem plena
interoperabilidade e capacidade de integração com outros componentes. O Rafael's Air Defense System Of Systems
(RAD-SOS) fornece uma solução completa, garantindo supremacia tática contra
um amplo conjunto de ameaças aéreas e de mísseis. Está baseado num conceito com
múltiplas camadas, que foi concebido para proporcionar a melhor proteção possível
contra todas as ameaças aéreas atuais e futuras. O conceito de camadas é
formado por dois sistemas de camada dupla, que lidam de maneira eficaz com dois
tipos diferentes de ameaças. Estes sistemas são modulares, porém fornecem o
máximo de interoperabilidade e conectividade. Os sistemas de defesa antimísseis
Iron Dome e David's Sling fornecem soluções abrangentes. O Iron Dome é utilizado na defesa contra mísseis de curto alcance,
enquanto o David's Sling, produzido e
desenvolvido em conjunto com a Raytheon, é usado contra mísseis de médio e
longo alcance, mísseis balísticos de curto alcance e mísseis de cruzeiros. O
Domo de Ferro (Iron Dome) é uma
solução eficiente e inovadora de defesa para combater foguetes e projéteis de
artilharia de curto alcance, podendo agir em um raio de até 70 km em todas as
condições meteorológicas, incluindo nuvens baixas, chuva, tempestades de poeira
ou neblina. O Iron Dome é a vedete da
indústria armamentista e aumentou ainda mais a fama das empresas israelenses. O
sistema utiliza um interceptor único, com uma ogiva especial que detona
qualquer alvo no ar em poucos segundos. É eficaz em ações com tiros
simultâneos de um grande número de ameaças. O sistema é facilmente
integrado com outros radares e sistemas de detecção. O interceptor é
lançado verticalmente com uma ogiva altamente eficaz e um sistema de fusíveis
por proximidade para garantir a detonação e destruição do alvo. Ele
oferece um alto índice de sucesso na interceptação de projéteis e foguetes,
além de causar redução de danos colaterais provenientes de detritos. O Domo de
Ferro tem sido uma arma altamente eficiente e eficaz contra os foguetes disparados
pelo grupo fundamentalista Hamas a partir da Faixa de Gaza contra a “Casa de
Israel”. A outra solução dupla oferecida pela Rafael é a família Spyder de sistemas de defesa aérea. O Spyder-SR é um sistema de defesa aérea
de curto alcance com lançamento inclinado, enquanto o Spyder-MR é um sistema de médio alcance com lançamento vertical. Os
sistemas são capazes de engajamento simultâneo com vários alvos e tiros únicos,
múltiplos ou rajadas, dia e noite, sob todas as condições meteorológicas. O Barak I é um sistema naval de mísseis
usado na defesa de áreas limitadas. O sistema é projetado especificamente para
combater ameaças aéreas existentes e futuras contra navios, incluindo mísseis
supersônicos que tangenciam a superfície do mar. O sistema permite operação de
dia e à noite e em condições meteorológicas adversas. O Barak I já está operacional em diversas marinhas, incluindo a de
Israel (RAFAEL ADVANCED DEFENSE SYSTEMS, 2015).
A Ares
Aeroespacial e Defesa é uma das subsidiárias da Elbit Systems. Com atuação no
Brasil há mais de 45 anos, a empresa fornece soluções tecnológicas em
equipamentos e sistemas customizados em ambiente de cooperação no
desenvolvimento de novas tecnologias e soluções em conjunto com as Forças Armadas,
centros de pesquisa e universidades. A concentração de atividades da Ares está no
planejamento, projeto, desenvolvimento, fabricação, integração, manutenção e
comercialização de produtos em três principais linhas de negócios: estações de
armas, sistemas navais e sistemas ópticos. A Ares é uma das líderes mundiais no
fornecimento de sistemas de defesa, garantindo o aumento da oferta de novas
tecnologias para uso militar e, consequentemente, contribuindo para o
desenvolvimento nacional e para o aumento das divisas de Israel (ARES AEROESPACIAL
E DEFESA, 2015).
Da análise do
parque industrial israelense, particularmente do ramo de Defesa & Segurança,
é possível verificar que o setor contribui decisivamente para que Israel seja a
economia mais desenvolvida do Oriente Médio e um país voltado para o
empreendedorismo, a inovação e a pesquisa científica. No país estão instaladas
indústrias de ponta, que abastecem não somente o mercado interno, mas exportam
produtos de defesa mundo afora. O comércio de armas, estimulado por parcerias estratégicas
estabelecidas com vários países, geram importantes divisas que contribuem para
o desenvolvimento nacional e também para a geração de poder das FDI. O setor
industrial é influenciado pelos militares e influencia o setor político, seja
por meio do financiamento de campanhas eleitorais, seja pela inserção de
militares e empresários no meio político. O Ministério da Defesa de Israel é um
dos principais promotores da indústria de Defesa & Segurança Nacional. O
setor aeroespacial ocupa lugar de destaque no contexto mundial, inserindo o
Estado de Israel no seleto grupo de países capazes de fabricar e lançar
satélites na órbita da Terra. Existem muitas empresas no país voltadas para o setor
de Defesa & Segurança, notadamente: Elbit Systems e suas subsidiárias,
Global Shield, Israel
Weapon Industries (IWI), Hagor Industries, Israel
Aerospace Industries (IAI), Rafael Advanced Defense Systems e Ares Aeroespacial
e Defesa, entre outras. Os principais produtos fabricados e/ou exportados são: aeronaves
remotamente pilotadas, fuzis, pistolas, metralhadoras, munições, mísseis, blindados
voltados para a Segurança Pública, carros de combate, materiais de proteção
individual, radares, sistemas de comando e controle, robótica, sistemas de
proteção de artilharia antiaérea, sistemas navais e sistemas ópticos, entre
outros.
Conclusão
Em 1961, o
grande chefe militar e estadista Dwight David Eisenhower, em seu discurso
oficial de despedida da Presidência dos EUA, já naquela época a maior potência
militar do planeta, inaugurou a definição da expressão complexo
industrial-militar, que ganharia o mundo como o “jogo de relações, estímulos e
influências” entre os entes estatais do governo de um país e de suas Forças
Armadas e, ainda, os empresários ligados ao Setor de Defesa & Segurança. Na
ocasião, o líder norte-americano mostrou-se preocupado com o estabelecimento de
uma “indústria de guerra” que poderia tornar-se influente demais e dar as
cartas no plano interno e no concerto das nações. E foi o que aconteceu,
particularmente em sua terra natal, mas também em outros países, como é o caso
de Israel, objeto da análise deste artigo. Portanto, as preocupações de
Eisenhower confirmaram-se e estenderam-se além das fronteiras estadunidenses.
O objetivo proposto deste artigo foi analisar a concepção estratégica do Estado de Israel no que se refere ao tripé que sustenta o seu
complexo
industrial-militar. Pelo analisado, é possível concluir que
Israel tem uma concepção estratégica voltada fortemente para o seu complexo
industrial-militar, pois é sabido por todos que esse conjunto, na verdade, é o
que garante a sua existência como Estado nacional soberano numa região repleta
de inimigos e ameaças que pregam a sua destruição. Para Israel, a guerra não é um evento extraordinário, dramático e
inesperado. Ao contrário, a guerra é uma atividade periódica que é parte da
vida nacional judaica. Ainda, a indústria de produtos de defesa israelense é
uma questão de interesse econômico nacional, como fonte de recursos financeiros
essenciais. O Ministério da Defesa de Israel desempenha duplo papel como
autoridade que acompanha o aparato militar e como promotor de vendas da
indústria militar israelense no estrangeiro, assegurando importantes divisas
para o país. Os laços são muito próximos entre as indústrias militares, por um
lado, e as FDI e as demais expressões do Poder Nacional, de outro.
O Estado Judeu
possui um regime político democrático estável e forte, voltado para a defesa
intransigente do seu território (conquistado a duras penas em guerras
sangrentas) e para a segurança de seus cidadãos e de seus habitantes.
As Forças de
Defesa de Israel (FDI) figuram entre as melhores Forças Armadas do mundo. São
bem concebidas, bem treinadas e bem adestradas para o cumprimento de sua missão
básica que é dissuadir quaisquer ameaças e estar sempre prontas para a defesa
da “Casa de Israel”. Em qualquer batalha, o que interessa é a vitória e a
inviolabilidade do território judeu, a qualquer custo. As FDI estão de
prontidão desde o dia 14 de maio de 1948, quando foi proclamada a Independência
de Israel e, a partir daí, o Mundo Árabe voltou-se contra a “Entidade
Sionista”, como eles definem o Estado Judeu. Algumas nações, como o Irã, e grupos
fundamentalistas, como o Hamas e o Hezbollah, pregam abertamente a destruição
total de Israel. Em outras palavras, querem “varrer Israel do mapa”.
Entretanto, as FDI sempre souberam responder prontamente às ameaças, aos
ataques e às invasões, mesmo quando em desvantagem relativa e momentânea.
Quanto ao setor
industrial israelense, o empreendedorismo, a inovação, a pesquisa, o
desenvolvimento de novas tecnologias e o estabelecimento de parcerias
estratégicas, inclusive além das fronteiras nacionais, são estimulados em
elevado grau, seja por parte do Governo de Israel, seja por parte de suas
Forças Armadas. Como resultado, o país é a economia mais desenvolvida no seu
entorno estratégico regional, o Oriente Médio, e uma das mais avançadas do planeta.
Produtos israelenses são exportados para vários países ao redor do mundo,
rendendo divisas fundamentais para o esforço econômico nacional. Israel domina
tecnologias de ponta em vários setores, com destaque para: satélites,
eletrônicos, robótica, armamento, radares, mísseis, foguetes e produtos de
defesa em geral.
Dessa forma, é
possível afirmar que a definição empregada pelo Gen Eisenhower, em 1961, está
sendo perfeitamente aplicada por Israel, que elaborou e aplica uma concepção
estratégica estatal unificada, envolvendo todas as Expressões do Poder
Nacional, voltada para a sustentação do seu complexo industrial-militar,
servindo de exemplo para outros países, como o Brasil, guardadas as devidas proporções
e os níveis de ameaças existentes.
Além disso,
segundo a Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (FIPE), no caso do Brasil,
para cada R$ 1,00 investido em programas de Defesa & Segurança é gerado um
multiplicador de 9,8 em valor de PIB. Isso, por si só, constitui-se num grande
incentivador para estimular o crescimento da economia do país.
A ótica da
Guerra Fria e da ameaça nuclear foi substituída por uma nova ótica multipolar
com ameaças difusas ou novos inimigos representados por organizações
não-estatais, o fundamentalismo religioso e o terrorismo indiscriminado
praticado por qualquer agente. Essa mudança não extinguiu a existência de
ameaças aos interesses dos Estados, o que assegura a manutenção de seus Setores
de Defesa & Segurança e, junto com eles, os seus complexos industriais-militares.
Por fim, é
imperativo destacar que o desenvolvimento e a manutenção do complexo
industrial-militar não é, em sua essência, um estímulo à guerra. Mas, sim, um
estímulo à paz. É preciso ter em mente a lógica da dissuasão: para manter a
paz, é preciso estar preparado para a guerra. A demonstração de força no preparo
para a guerra é o que mantém a paz, pois desencoraja no outro qualquer intenção
de aventura.
Notas
(3) O Movimento de Resistência Islâmica
(Hamas) foi criado em 1987, como
organização política e militar palestina. Seu programa político tem como pontos
fundamentais: a instauração de um Estado Palestino abrangendo toda a Palestina
Histórica e o não reconhecimento de Israel. Desenvolve ações terroristas contra
o Estado Judeu, inclusive ataques com foguetes, a partir da Faixa de Gaza.
(7) O Estado Islâmico do Iraque e da Síria (ISIS, na sigla
em inglês), também conhecido como Daesh,
é uma organização jihadista que atua no Oriente
Médio. Em 29 de junho de 2014 proclamou a existência de um califado, tendo
Abu Bakr al-Baghdadi como califa. O ISIS afirma autoridade
religiosa sobre todos os muçulmanos do
mundo e aspira tomar o controle de muitas regiões, entre elas a região do
Levante, que inclui Jordânia, Israel, Palestina, Líbano, Chipre e o sul
da Turquia.
(11) O KC-390, em fase de desenvolvimento pela Embraer
Defesa & Segurança, é uma aeronave para transporte tático e logístico e reabastecimento em voo. O modelo
estabelecerá um novo padrão para o transporte militar médio, visando atender os
requisitos operacionais da Força Aérea
Brasileira (FAB), em substituição ao C-130
Hercules. Será o maior avião já produzido na América
Latina.
Referências:
ABRIL, Almanaque. 41.
ed. São Paulo: Editora Abril, 2015.
APSAN, Michel. Fatores de apoio ao
empreendedorismo: um estudo comparativo entre Israel e o Brasil. Dissertação de
Mestrado – Escola de Administração de Empresas de São Paulo, São Paulo, 2014.
BRASILEIRO, Ada Magaly Matias. Manual de
produção de textos acadêmicos e científicos. São Paulo:
Atlas, 2013.
BROUDE, Mark et al. Defense,
Innovation and Development: The case of Israel.
BUTLER, John Sibley e GIBSON, David V.. Global Perspectives on
Technology
COOK, Fred J. O Estado Militarista. São
Paulo: Civilização Brasileira, 1966.
ISRAEL. Forças de Defesa de Israel
(FDI). Escritório do Chefe do Estado-Maior Geral. IDF Strategy (tradução
livre). Tel Aviv, 2015.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. A.
Metodologia Científica. 5. Ed. São Paulo: Editora Atlas, 1991.
MAGNOLI, Demétrio, organizador. História
das guerras. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2011.
OREN, Michel B. Seis dias de guerra. 1.
ed. São Paulo: Bertrand Brasil, 2004.