segunda-feira, 23 de abril de 2018

Nossa Senhora Aparecida

A santinha que venceu o ódio, a raiva, a corrupção e as vaidades, superou outros obstáculos e conquistou a fé da maior nação católica do mundo.


Carlos Evando dos Santos
23 Abr 2018


A História (com h maiúsculo, pela sua grandiosidade) da Imagem de Nossa Senhora da Conceição "Aparecida", a santinha que venceu o ódio, a raiva, a corrupção e as vaidades, superou outros obstáculos e conquistou a fé da maior nação católica do mundo, começou há mais de 300 anos.

Com 36 cm, escurecida (muito provavelmente pela fumaça das velas dos fiéis e pelo lodo dos muitos anos que passou no fundo do rio Paraíba do Sul) e com a cabeça separada do corpo, a imagem de Nossa Senhora da Conceição apareceu nas redes dos pescadores João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia, em 1717. 

Embora tenha sido João Alves quem a tenha "pescado" (primeiro a santinha e depois sua cabeça), não se sabe por que ele não quis ficar com ela, talvez pela superstição segundo a qual "santo quebrado traz mau agouro".

Felipe Pedroso foi quem a levou para casa, colou pela primeira vez a cabeça ao corpo e zelou pela imagem por quinze anos (1717-1732).

Pelos milagres que realizou, a santinha foi se tornando conhecida na pequena Vila de Guaratinguetá e em seus arredores. 

Já popular e com grande número de fiéis, saiu da casa de Felipe em 1732 e foi para um primeiro santuário erigido para ela por Atanásio Pedroso (filho de Felipe), onde permaneceu até 1745. Na pequena capela à beira da estrada a imagem de Nossa Senhora ganhou o "apelido" de Aparecida, pelo qual ficaria famosa e conquistaria o Brasil.

Em 26 de julho de 1745, Nossa Senhora Aparecida, pela iniciativa e ação direta do Padre José Alves Vilella, ganhou uma nova capela, no Morro dos Coqueiros.

Em 1888, Aparecida ganhou dois significativos presentes. O primeiro, uma nova igreja, agora à altura da devoção que o povo já mantinha por ela. A "Basílica Velha" foi construída por um longo período com o empenho pessoal do cônego Joaquim do Monte Carmelo. O segundo presente foi recebido diretamente da Princesa Isabel, herdeira do trono do Império do Brasil: uma coroa e um manto triangular azul para encobrir a cicatriz permanente na junção do corpo com a cabeça. 

Já no período republicano, Nossa Senhora Aparecida foi coroada no dia 8 de setembro de 1904 como "Rainha do Brasil". A santinha recebeu a coroa doada pela Princesa Isabel que jamais chegaria a usar, impedida que foi pela Proclamação da República em 1889.

No dia 16 de julho de 1930, Nossa Senhora da Conceição Aparecida foi proclamada, por ato manuscrito de Sua Santidade o Papa Pio XI, Padroeira Perpétua do Brasil. "Senhora Aparecida, o Brasil é vosso". A grande festa da proclamação ocorreu somente em 31 de maio de 1931, na qual tomou parte o Chefe do Governo Provisório, Getúlio Vargas.

No início da década de 1950, no segundo Governo de Vargas, teve início a grande obra da basílica nova, no Morro das Pitas, que foi inaugurada somente em 4 de julho de 1980, ainda inacabada, por Sua Santidade o Papa João Paulo II. 

O Santuário Nacional de Aparecida é o segundo maior templo católico do mundo, menor apenas que a Basílica de São Pedro, no Vaticano. Como templo mariano, é a maior edificação religiosa do planeta.

No fatídico dia 16 de maio de 1978, num ato de loucura perpetrado por Rogério Marcos, mais de dois séculos e meio após ter sido retirada das águas do Paraíba do Sul, durante uma missa na Basílica Velha, numa noite tenebrosa na qual faltou energia elétrica somente na basílica, a frágil imagem de Nossa Senhora Aparecida foi arrancada do local onde estava, lançada ao chão e desfeita em dezenas de pequenos fragmentos. 

Após difícil decisão por parte da Alta Hierarquia da Igreja Católica, no Brasil e no Vaticano, Aparecida foi restaurada pelas mãos da escultora Maria Helena Chartuni, do Museu de Arte de São Paulo (MASP). De volta à cidade que recebeu seu nome, Nossa Senhora Aparecida ganhou, de vez, o coração dos brasileiros.

Nossa Senhora Aparecida é um dos símbolos da Unidade Nacional. Posto máximo da fé brasileira. Até mesmo aqueles que não se sentem próximos a ela, ao contemplá-la, vêem nela um "Retrato do Brasil".



Referência:

Alvarez, Rodrigo. Aparecida: A biografia da santa que perdeu a cabeça, ficou negra, foi roubada, cobiçada pelos políticos e conquistou o Brasil. 1 ed. São Paulo: Globo, 2014.





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